São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Papa trouxe crise de esperança, diz Boff

Teologia da Libertação é revista

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Dez anos depois de condenado pelo Vaticano a um período de "silêncio obsequioso", o teólogo e ex-frade Leonardo Boff, 56, afirma que faltou à Teologia da Libertação uma maior preocupação com a espiritualidade.
Pesquisa publicada ontem na Folha indica que caiu o interesse dos seminaristas pelo trabalho com CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) -grupos que se reúnem para discutir religião.
Autor de mais de 50 livros, Boff é um dos principais nomes da Teologia da Libertação, corrente que procura unir a Bíblia a propostas de modificação da sociedade de inspiração socialista.
Afastado do sacerdócio há três anos, professor de Filosofia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Boff, em seus últimos livros, tem procurado aliar às antigas propostas temas ecológicos e espirituais. A seguir, trechos de sua entrevista.

Folha - Que consequências as ações do Vaticano geraram na igreja brasileira?
Leonardo Boff - Isto chega ao povo pelos bispos, padres e agentes de pastoral. Todos se tornam mais prudentes, ousam menos. O flagelo maior que este papa (João Paulo 2º) introduziu foi a crise da esperança.
Folha - O Vaticano foi competente na implantação de seu projeto? Isso afetou as CEBs?
Boff - O Vaticano foi competente. Impôs a inserção de todas as CEBs em uma paróquia, transformou-as em instrumentos das paróquias. Isto é decisivo: ou elas seguem seu caminho de autonomia ou serão um departamento da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Folha - A Teologia da Libertação era acusada de só dar atenção ao político.
Boff - Faltou trabalhar melhor a espiritualidade, a mística de cada pessoa, seus anseios e frustrações, o que deixou um vazio.
Folha - Como o sr. avalia a mudança de foco de alguns teólogos da libertação?
Boff - A Teologia da Libertação recebeu um impacto muito grande da crise histórico-social marcada pela queda do muro de Berlim, pela crise das utopias. Hoje, a libertação tem que ter uma perspectiva a partir da evidência de que o mesmo sistema que explora o homem explora o planeta Terra. As CEBs devem se transformar em Comunidades Ecológicas de Base, que trabalhem uma agricultura ecológica.

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