São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Marxismo é inepto, afirma dom Lucas

Arcebispo nega disputa pela CNBB

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Para o arcebispo de Salvador (BA), d. Lucas Moreira Neves, 69, a Teologia da Libertação -cujo principal inspirador é o ex-sacerdote Leonardo Boff- baseada no marxismo "entrou no crepúsculo".
Para ele, as instruções do Vaticano baixadas nos últimos anos ajudaram a forjar uma maior unidade entre os bispos brasileiros.
A Igreja Católica procurou eliminar "excessos" na atuação de bispos e padres identificados com a Teologia da Libertação.
D. Lucas é um dos brasileiros mais ligados ao papa João Paulo 2º (tem oito cargos no Vaticano).
Nega que seja candidato à presidência da CNBB. Seu nome foi lançado pelo bispo-coadjutor (auxiliar) de Jundiaí (SP), d. Amaury Castanho.
A seguir, trechos da entrevista:

Folha - O que influiu mais na igreja brasileira: as instruções do Vaticano ou a crise do socialismo europeu?
D. Lucas Moreira Neves - As duas coisas juntas, mas não posso citar em que proporção.
Folha - Como o sr. avalia a Teologia da Libertação?
D. Lucas - A Teologia da Libertação baseada em uma análise marxista da sociedade entrou no crepúsculo. O marxismo (referência ao filósofo alemão Karl Marx, 1818-83) provou sua inépcia total.
Existe também uma Teologia da Libertação que é a reflexão da palavra de Deus, que parte das fontes da igreja e da realidade da América Latina. Esta, como diria João Paulo 2º, é não só oportuna mas necessária.
Folha - Esse processo interferiu no trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)?
D.Lucas - Há CEBs que deixaram à sombra o adjetivo eclesial (algo relacionado à igreja) e que eram muito ligadas a esse tipo de análise marxista. Outras receberam lições magistrais dos papas Paulo 6º e João Paulo 2º e estão aí, ativas.
Folha - Pesquisa com seminaristas (publicada ontem na Folha) mostrou que eles estão menos interessados em trabalhos na área social. Como o sr. analisa isso?
D. Lucas - Os seminaristas têm consciência de que, se os padres não exercerem suas tarefas de liturgia, de formação de espiritualidade, ninguém as fará em seu lugar. Isso não representa uma alienação, mas o exercício de sua tarefa para bem formar o leigo.
Folha - O sr. é candidato à presidência da entidade?
D. Lucas - Sou muito avesso a esse tipo de articulação e não sou candidato a nada.

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