São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Relacionamento entre os dois países sempre foi 'pendular'

Governos têm períodos de aproximação e afastamento

GILBERTO DIMENSTEIN
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Recordista de permanência no cargo de ministro das Relações Exteriores, onde ficou por dez anos e apenas saiu morto em 1912, José Maria da Silva Paranhos, conhecido como barão do Rio Branco, disse: "O Brasil só tem dois amigos no continente: o Chile no sul e os Estados Unidos no norte".
A frase é um dos marcos do relacionamento entre Brasil e Estados Unidos, embalado neste século por um movimento pendular de aproximação e afastamento.
O presidente Jânio Quadros (janeiro a agosto de 61) condecorou Che Guevara, herói da revolução cubana. No movimento contrário, os militares, pouco tempo depois, cogitariam até mesmo enviar soldados brasileiros ao Vietnã ao lado das tropas norte-americanas.
Em 1905, Rio Branco estabeleceu a Embaixada do Brasil em Washington, já apostando que o eixo de poder rumaria da Europa para os EUA.
A postura de apoio sumário a intervenções dos Estados Unidos em países de sua suposta zona de influência seria questionada por Getúlio Vargas, que, durante a Segunda Guerra Mundial, sintetizou o movimento pendular.
Na busca de investimentos para assegurar a industrialização, Juscelino Kubitschek, em plena Guerra Fria (conflito EUA e ex-União Soviética), mostra-se encantado pelo charme do capitalismo e dos dólares norte-americanos.
Na lógica do pêndulo, Jânio Quadros inaugura uma política de independência, da qual a condecoração de Guevara é o sinal mais evidente, prepara o reatamento diplomático com os soviéticos, a aproximação com a China e o apoio dos movimentos pela descolonização da África.
Quando Jânio Quadros renunciou, João Goulart estava em visita à China. Em pouco tempo, Jango cairia e, com o primeiro presidente militar, Castello Branco, voltava-se a Rio Branco.
Em 1971, Richard Nixon recebe o então presidente Emílio Garrastazu Médici, saudando: "Para onde for o Brasil também irá a América Latina".
Os militares prosseguiam à risca o movimento de vai e volta diante dos norte-americanos. O presidente Ernesto Geisel aproxima-se dos árabes, endossa o voto contra o sionismo (movimento que prega o direito dos judeus a uma pátria) na ONU, fica mais próximo da China, reconhece o governo de esquerda em Angola (África).
Os militares apostam no desenvolvimento nuclear, realizando acordos com a Alemanha e enfurecendo os Estados Unidos. A tensão chega ao máximo quando Geisel suspende os programas de cooperação com os EUA.
A agenda entre os dois países continua contaminada no regime civil: Lei da Informática, falta de proteção às patentes, moratória da dívida externa, barreiras alfandegárias. Foi José Sarney quem reatou as relações com Cuba, tabu nos Estados Unidos.
FHC assume com o mundo com uma única superpotência, no qual, com a queda da União Soviética, dizimaram-se confrontos ideológicos. Nenhuma liderança sindical ataca mais o "imperialismo".
Mais importante, o mundo organiza-se em bloco de livre comércio. Os Estados Unidos sabem que dificilmente há uma integração americana sem o Brasil. E o Brasil sabe que o hemisfério é seu espaço natural de progresso e inserção no mercado mundial. (GD)

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