São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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'Consumo de propaganda é pequeno'

NELSON BLECHER

Folha - Anunciantes vêm questionando a lei 4.680, que fixa a remuneração das agências em 20% do volume de veiculação. Qual sua posição a respeito?
Pinto - Enquanto a legislação existir é preciso que seja respeitada. Se o mercado quiser rever é outra história. O fórum adequado para temas como esse é a Abap. Mas já houve discussão em torno desse assunto e a maioria das agências é favorável a não mexer na lei.

Folha - Com desempenho recordista em 1994, quais as perspectivas para o mercado publicitário?
Pinto - O mercado está muito saudável. O problema é que o consumo per capita de propaganda no Brasil é de apenas US$ 23, o que nos posiciona em 40º lugar no ranking mundial, embora o país figure entre os 12 primeiros em volume de investimento, empatado com a Noruega que fatura US$ 3,5 bilhões. O uso da propaganda no Brasil ainda é muito restrito, refletindo a pobreza existente. Mas há margem para crescimento.

Folha - Qual a situação das agências de propaganda?
Pinto - As agências atravessaram um período extremamente difícil e chegaram ao fundo do poço no início desta década. A exemplo de empresas de outros setores, começaram a se ajustar e efetuaram grandes cortes de pessoal, ao mesmo tempo em que promoveram inovações administrativas. Hoje existe um repensamento do conceito que associava agência grande com qualidade. A velocidade do mundo moderno exige mudanças radicais, que se dê poder de decisão ao pessoal que está na linha de frente.

Folha - A propaganda está sob ataque de setores que pressionam por maiores restrições. O que o sr. pensa disso?
Pinto - O ataque à publicidade vem de várias fontes, na tentativa de restringir a liberdade de expressão comercial, às vezes com excelentes intenções. Por exemplo: dizer que o fumo e o consumo excessivo de bebida fazem mal à saúde, evitar a auto-medicação etc. Mas a idéia é muito perigosa e paternalista. É claro tem de haver restrição em certos casos, mas o melhor caminho é a auto-regulamentação. O Brasil chegou a essa solução exemplar com a criação do Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), há 16 anos.

Folha - Como terminou o caso da nova portaria do fumo, que previa restrições severas à propaganda de cigarro?
Pinto - O ministro Adib Jatene herdou a bomba do antecessor. Existem dúvidas sobre a regulamentação, através de uma portaria, da propaganda de cigarros. Muito inteligente, o ministro deixou as coisas esfriarem. Resultou uma portaria muito mais branda que a anterior. Basicamente impõe algumas frases de advertência, que devem constar do áudio. Não altera muito o que está previsto no código de auto-regulamentação e transfere para a iniciativa privada a responsabilidade de repensar o assunto. O Conar está agora consultando o mercado para verificar se há necessidade de mudanças.

Folha - Por que surgem tantos conflitos nos processos de licitação de campanhas para o governo?
Pinto - Devido a uma contradição que precisa ser resolvida. A legislação do governo prevê que as concorrências sejam baseadas em aspectos técnicos e preços. Ocorre que a lei 4.680, que regulamenta o setor de agências, determina que os honorários correspondam a 20% do volume de veiculação.

Folha - Os cursos de publicidade estão entre os que mais atraem estudantes, por causa dos salários milionários. O mercado tem condições de absorver uma legião de novos profissionais?
Pinto - Os salários são altos em certos departamentos, como o de criação. É uma atividade semelhante à do jogador de futebol: de vida curta e alto risco. A quantidade de candidatos excede em muito a capacidade das agências, que sofreram reestruturação e reduziram o número de funcionários. Hoje funcionam em São Paulo 18 escolas de comunicação. Só a minoria de alunos terá bons empregos.

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