São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Palmeiras joga sem frescuras nem deboche

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E o trio de ferro invadiu o segundo turno, malhando judas e ribombando postes de ferro, na mais velha tradição do Sábado de Aleluia.
Quer dizer: até que o alarido não foi tal, pois, em Campinas, o Corinthians não conseguiu mais do que um gol de pênalti diante da Ponte, enquanto o São Paulo, por aqui, só escapou do empate no finalzinho da partida contra o Araçatuba. É bem verdade que ambos mereciam mais, sobretudo o tricolor, que dominou o jogo de cabo a rabo.
Resoluto e objetivo mesmo foi esse Palmeiras, que, a cada rodada, borda uma letra de tricampeão em seu peito: num jogo equilibrado contra a sólida e ágil Lusa, meteu 3 a 0, limpidamente, mesmo desfalcado de sua mais cintilante estrela -Edmundo.
O fato é que o Palmeiras não se limita a ter um elenco invejável. Tem pinta de campeão, joga com a postura de um campeão, sem frescuras nem deboche. Ainda mais, depois que Espinosa resolveu o problema da lateral-direita, com a deslocação de Flávio Conceição para lá.
Em suma, o Palmeiras, desse jeito, só perde para si mesmo.

Ainda no rastro do artigo de ontem, vale fazer um breve lembrete sobre a origem dos dois cabeças-de-área, que Dunga e Mauro Silva consagraram na conquista do tetra, nos EUA.
Até meados dos anos 60, havia o médio-volante, que, pela própria denominação, ia e vinha, de uma intermediária à outra, como Zito, por exemplo, em 58 e 62.
A partir de 64, mais ou menos, surgia a figura do cabeça-de-área, o médio que se posta à frente da linha de quatro zagueiros, como alerta e fixo sentinela, cuja área de ação passa a ser no sentido horizontal, de lateral a lateral, sem ousar muito além do meio-campo.
Os cariocas asseguram que o pioneiro foi o tricolor Denilson, um negro alto, forte e incansável, que mestre Nelson Rodrigues dizia lembrar um rei zulu, caçando os inimigos em campo, com lança e tudo. Os paulistas preferem atribuir esse pioneirismo ao palmeirense Dudu, branquelo, baixinho, mirrado até, mas múltiplo e implacável na recuperação da bola naquela zona que antecede ao bote fatal.
A verdade é que ambos surgiram ao mesmo tempo, com iguais funções. A parceria de dois cabeças-de-área, porém, só seria tentada com êxito dez anos depois, com o Inter de Rubens Minelli, bicampeão brasileiro de 75/76. Exatamente para não ter que recuar um ponta, a exemplo de Zagallo, Minelli preferiu reforçar o setor com dois cabeças-de-área -Caçapava e Falcão, deixando a armação para Carpeggiani. Em certas ocasiões, chegava ao paroxismo de acrescentar Batista como um terceiro médio.
A diferença, porém, chamava-se Falcão, um raríssimo exemplo de perfeição no ofício, capaz de marcar como um Batista e armar como um Carpeggiani, isso tudo revestido de um estilo impecável e um senso incomum de colocação em campo, mais o fôlego inesgotável.
Como não há dois Falcões na história do nosso futebol, ficamos mesmo com os duplos de Dunga imperando por esses meio-campos afora.

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