São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Min Tanaka dança hoje em SP

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Min Tanaka dança hoje pela primeira vez no Brasil. Ele é considerado um dos três pilares da dança butô, depois de Tatsuji Hijikata e Kazuo Ohno.
Tanaka realiza apenas um espetáculo solo -"Seasons"- no Centro Cultural São Paulo. Na terça-feira, dança em Curitiba, no Teatro Ópera de Arame. Na quarta, se apresenta em Brasília, no Teatro Nacional Cláudio Santoro.
Como os demais artistas do butô, movimento de vanguarda japonês que surgiu no final dos anos 50, Tanaka não persegue um ideal estético. No butô, a proposta é revelar a alma, o lado banal e grotesco do ser humano.
Nascido em Tóquio em 1945, Tanaka foi jogador de basquete, antes de se dedicar à dança. Nos anos 70, fundou o grupo Maijuku e o teatro alternativo "Plan B".
Em zona rural próxima a Tóquio, ele dirige o Body Weather Farm Laboratory, uma comunidade de pesquisa que investiga as origens da dança. No momento além de estar preparando um novo espetáculo, chamado "Eu vi uma baleia no gramado", também já começou a criar a coreografia da ópera "A Flauta Mágica", que a Ópera Nacional da Holanda estréia em dezembro, em Amsterdã.
Ele respondeu à entrevista da Folha por fax.

Folha - O que você procura expressar com "Seasons"?
Min Tanaka - "Seasons" é uma peça 80% improvisada. É um trabalho que muda constantemente, à medida que danço em diferentes lugares e diferentes épocas.
A proposta é dançar as estações de minha vida assim como as percebo, sempre profundamente relacionadas às minhas estações internas, às estações do mundo e às estações da natureza.
"Seasons" representa um ciclo da natureza e da vida de alguém: uma estação aparece e vai embora, para dar lugar a outra... É uma peça que, à medida que é dançada, começa a produzir sua própria expressão, mensagem e emoção.
Folha - Qual sua expectativa em dançar "Seasons" aqui?
Tanaka - Pela primeira vez estarei exposto ao clima, social e natural, do Brasil. Isto é muito importante para mim.
Folha - Em "Seasons", a música é tocada ao vivo pelo compositor Minoru Noguchi. Como ele faz para acompanhá-lo?
Tanaka - Noguchi é meu amigo e colaborador há 20 anos. No palco, ele improvisa sua música.
Folha - Você costuma afirmar que a vanguarda tem uma profunda ligação com a tradição. Por quê?
Tanaka - A tradição se situa no interior de nossa vida cotidiana. Ao mesmo tempo, em cada momento de nosso dia-a-dia, encontramos potencial e ocasião para expressar a vanguarda.
Folha - Qual a importância de seus estudos de balé clássico, técnica de Martha Graham e mesmo sua experiência como jogador de basquete?
Tanaka - Sinto que todas as experiências físicas e de movimento que tive, permanecem dentro de mim. Seus valores não podem ser quantificados nem fixados.
Folha - Como você descobriu a dança em sua vida?
Tanaka - Em determinado momento, eu me descobri dançando. Posso dizer que, na verdade, eu fui descoberto pela dança.
Folha - Qual a importância do Tatsumo Hijikata para você?
Tanaka - Hijikata significa uma coragem indeterminada.
Folha - Você tem alguma identificação com Kazuo Ohno?
Tanaka - Eu o respeito, mas não tenho interesse particular.
Folha - Qual o significado de sua dança?
Tanaka - Através da dança eu me comunico com o público de maneira como desejo ou necessito.

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