São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Deterioração ameaça imagens históricas

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Um dos mais importantes acervos de imagens históricas do Brasil está correndo risco de rápida deterioração.
São cerca de 200 mil cópias fotográficas, 2.000 caricaturas e 1,5 milhão de negativos do acervo do jornal "Última Hora" (1951- 1993), do Rio, comprado pelo Arquivo do Estado de São Paulo junto a Pinki Wainer.
As fotos e negativos estão guardados numa sala sem climatização adequada e em pastas de papel com mais de 40 anos. Além dos problemas materiais, o acervo sofre agora com a demissão de funcionários da Cultura, que atingiram também o arquivo.
Depois de ter passado por algumas propriedades da família Wainer (que foi proprietária do "Última Hora"), ensacados em condições desconhecidas, o material foi afetado por enchentes que atingiram o prédio do jornal.
"O ideal seria possuir uma sala climatizada e embalagens apropriadas", diz Daniela Palma, funcionária do arquivo. As embalagens ideais seriam feitas com papel de PH neutro ou alcalino, que impediriam a oxidação das fotos.
Para os negativos, um tratamento mais delicado deveria ser implantado. A orientação para isto sairia de um teste que o arquivo não tem estrutura para fazer.
A precariedade estrutural do prédio do acervo, que é "provisório" desde a década de 50, não é o único problema para a conservação deste material.
As demissões do Baneser -órgão do Banespa, banco estadual sob intervenção do Banco Central, que fornecia mão-de-obra para a administração pública- atingiram mais de 80% dos funcionários do acervo e desfalcaram seriamente a equipe do setor iconográfico.
"Das 12 pessoas que iniciaram o trabalho, sobraram duas", diz Palma, uma delas. Estas, recontratadas para um período de emergência, não receberam pelo mês extra e não sabem seu destino.
"Se pararmos de trabalhar a coleção fica largada, se continuarmos nestas condições, ela ainda assim se deteriora", completa.
No acervo está um recorte da história do país entre as décadas de 50 e 70. Clássicos futebolísticos, charges políticas, flagrantes de personalidades e cenas cotidianas misturam-se a negativos não-revelados e de conteúdo desconhecido.
O "Última Hora", fundado em 1951, foi responsável por uma revolução no jornalismo brasileiro. Preocupado em fazer um jornal "para as massas", Samuel Wainer investiu no uso de muita cor, fotos e charges.
Wainer contratou fotógrafos e chargistas de revistas como o "Cruzeiro" e a "Fon-Fon", publicações que difundiram um novo modelo de tratamento da fotografia no jornal diário, que valorizava o espontâneo e o detalhe.
Entre estes profissionais estavam o fotógrafo Jean Manzon e os chargistas Nássara, Octavio e Lan.
O material, que estava guardado no sítio de Pinki Wainer, filha de Samuel, foi comprado pelo Arquivo do Estado durante a gestão de Fernando Morais na Secretaria de Estado da Cultura, em 1989.
No ano passado terminou de ser catalogado por uma equipe de pesquisadores que foi sendo sucateada pelas demissões do Baneser.
O projeto feito pelas pesquisadoras Margot Pavan e Heloise Costa fez um resgate arqueológico do material. A divisão inicial das fotos privilegiava três áreas: polícia, futebol e personalidades.
Segundo o diretor do acervo, Nilo Odalia, a coleção do "Última Hora" não é prioridade. "Quero salvar o material do século 16 porque o arquivo do Deops e o iconográfico pode receber um tratamento mais moderno, informatizado."
Segundo o diretor, a única saída possível para conseguir verba para o projeto é oferecê-lo a empresas do setor financeiro. "O Estado sozinho não dá conta."

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