São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Mascaro retrata centro de SP nos detalhes

DA REPORTAGEM LOCAL

O fotógrafo brasileiro expõe suas imagens da rua Florêncio de Abreu a partir de hoje no Museu Banespa

Local Exposição: Rua Florêncio de Abreu
Sinopse: 32 fotos da rua situada no centro da cidade de São Paulo
Fotógrafo: Cristiano Mascaro
Onde: Museu Banespa (viaduto do Chá, 15, térreo, tel. 011/248-1135, região central de São Paulo)
Quando: de hoje ao dia 28
Visitação: seg a sex, das 10h às 16h30
Entrada: franca

O fotógrafo brasileiro Cristiano Mascaro, 50, já tentou retratar São Paulo do alto de prédios. Não conseguiu. "Foi só no chão que encontrei a cidade", diz, olhando para as fotos da exposição que o Museu Banespa inaugura hoje.
A exposição reúne 32 fotos que Mascaro fez na rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, na qual os prédios antigos estão na maioria ocupados por lojas de construção e outros comércios.
A exposição é um prolongamento do trabalho que Mascaro faz há 20 anos -fotografar o centro histórico da cidade- e que estará em livro a ser lançado, ainda sem data definida, pela editora de livros de arte DBA.
Por 15 dias Mascaro observou a rua e clicou. "Foi pouco tempo, mas a Florêncio de Abreu tinha tudo que eu vinha analisando nas outras ruas do centro."
O que Mascaro analisa são os detalhes característicos do centro de São Paulo e, por eles, sua evolução histórica -ou involução.
Mascaro não embeleza o mau estado e balbúrdia do centro paulistano. Deixa a decadência se mostrar. Também não a denuncia.
"Tento fugir do lugar-comum, permanecendo discreto", diz.
Ele sabe que a qualidade de vida do centro piora a cada dia, mas seu olho não segue a decadência evidente; antes, se concentra no movimento diário da região.
"São Paulo é um cenário dinâmico, um carrossel que, momentaneamente, pode ser harmônico."
Para ele, a cidade não pode ser fotografada como um cenário amplo, aberto, dos que trazem o pôr-do-sol ao fundo, como se fosse Rio de Janeiro ou Nova York.
Está convicto disso desde que procurou "skylines" paulistanos, os recortes de prédios contra o céu, e não achou nada entusiástico. Todos lhe pareceram iguais.
"Descobri que São Paulo é sua agitação e eficiência cotidiana e que essa São Paulo está nos detalhes, num ornamento arquitetônico quase sumindo, nas pessoas passando diante de uma fachada."
Esse enfoque fragmentário da cidade se expressa mesmo na atenção que Mascaro dá às luzes de São Paulo. Uma réstia, uma área luminosa definida, sombras -obtidas quase sempre de manhã cedo- são o que lhe interessa, não visões gerais e luzes uniformes.
Para ele, a característica de São Paulo é não ter característica, mas uma variedade delas mudando a cada dia. "É por isso", diz, "que procuro os detalhes embutidos nesse cenário". Um cenário que ele julga muito pouco observado.
Na Florêncio de Abreu, Mascaro encontrou formas decorativas de uma São Paulo do século passado, algumas delas quase rococós, com curvas caprichosas, convivendo com os cartazes das lojas e as descascaduras das paredes.
Alguns prédios retratados parecem prestes a cair. "Não resta quase nenhum intacto", diz ele. "Várias épocas dividem o mesmo espaço ali, por menor que seja."

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