São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995 |
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Material é maior dificuldade
RICARDO BONALUME NETO
E poderá ser cada vez mais fácil se prosperar o novo mercado de contrabando de sua matéria-prima, o material chamado "físsil" -como mostraram as pequenas apreensões de plutônio-239 da Europa Oriental feitas na Alemanha. Teoricamente, isso indicaria uma nova era de "democratização" das armas nucleares. Mas o mais provável é que isso ainda não venha tão cedo. Só a matéria-prima não basta. A teoria por trás dessas armas hoje é currículo de faculdade de física. Alguns anos atrás alunos norte-americanos usaram fontes publicadas para dar sua própria receita de bomba em um livro -o que não quer dizer que poderiam fabricá-la no intervalo das aulas. Produzir a matéria-prima das bombas foi a maior dificuldade do projeto norte americano durante a Segunda Guerra Mundial. O material "físsil" existe em quantidade pequena na natureza. O processo de fabricação do combustível nuclear, para reatores ou bombas, consiste em "enriquecer", aumentar, a proporção desse material físsil. "Físsil" quer dizer algo capaz de se cindir. É o caso do núcleo dos átomos de certos elementos químicos, como urânio e plutônio; daí a expressão energia "nuclear". Esse núcleo pode ser partido ao ser bombardeado com certas partículas nucleares, os nêutrons. O resultado são dois outros elementos e energia, muita energia. Aquele que quiser fazer uma bomba terá de utilizar um de dois tipos físseis de urânio ou plutônio: os isótopos (variantes com pesos atômicos diferentes) urânio-235 e plutônio-239. Para uma bomba razoável, uma mini-Hiroshima, bastam uns 8 kg de plutônio-239; com urânio-235 precisa-se mais, algo como 25 kg. Em compensação, a bomba de urânio-235, como era a de Hiroshima, é mais fácil de fazer. A idéia básica é criar a chamada reação em cadeia não controlada, quando o material físsil começa a se cindir rapidamente e explode. No caso da bomba de urânio basta detonar um explosivo convencional que arremesse uma parte do material na outra. A bomba de plutônio exige que a explosão seja exatamente direcionada contra o elemento físsil, de modo a provocar a reação descontrolada com o aumento da pressão. As chamadas bombas de hidrogênio ou de "fusão" são bem mais complexas e poderosas. Usam outro tipo de reação nuclear, aquela que funde núcleos leves, como os de hidrogênio. Geralmente a "espoleta" da bomba é uma bomba atômica, de material físsil, o que dá uma idéia do seu poder maior, de dezenas ou centenas de Hiroshimas. Os arsenais russo e norte-americano têm bombas de modelos variados que combinam os dois princípios. Texto Anterior: O TRATADO DE NÃO-PROLIFERAÇÃO Próximo Texto: Terror exige profissionais Índice |
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