São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Motta vê "masturbação sociológica" do governo

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) criticou ontem a atuação do governo na área social. As críticas foram dirigidas ao programa Comunidade Solidária e aos ministros Paulo Renato (Educação) e Adib Jatene (Saúde).
O ministro das Comunicações afirmou que a área da Educação precisa de mais ousadia e a área da Saúde de mais agressividade.
"Essa masturbação sociológica me irrita", disse o ministro, referindo-se à morosidade do governo na área social.
O programa Comunidade Solidária, ligado diretamente ao Palácio do Planalto, é comandado pela antropóloga Ruth Cardoso, mulher do presidente Fernando Henrique Cardoso.
FHC responde
Em Nova York, antes de entrar em coquetel oferecido pelo Congresso Mundial Judaico, FHC respondeu secamente: "Ministro não critica governo".
O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que acompanhava o presidente, acrescentou: "Eu posso, porque não estou lá dentro".
As declarações de Motta causaram mal-estar na comitiva presidencial em Nova York.
Significado
Segundo Motta, "masturbação sociológica" significa limitar as ações a levantamentos de dados e promoção de pesquisas sócio-econômicas.
O ministro disse que a área da Educação "ainda não está bem administrada".
Motta afirmou que a indecisão política na área social acaba causando a morte de pessoas. O ministro disse que a atuação do governo neste setor deveria ser "mais agressiva".
Ele citou como exemplos de ações que poderiam ser adotadas pelo programa Comunidade Solidária a distribuição de cestas básicas, atuação de paramédicos (profissionais de saúde que atuam em situações de emergência) e mobilização de pessoal das Forças Armadas.
"São pequenas ações que mudam a realidade", disse Motta. Ele também citou a canalização de córregos como uma das ações que deveriam ser adotadas pelo governo.
As afirmações foram feitas à bancada do PMDB na Câmara durante exposição sobre o setor de comunicações. Após o encontro com os deputados, Motta tentou recuar nas suas declarações, ao ser interpelado por jornalistas.
"Eu não critiquei o governo, falei como cidadão, e a opinião geral é que a área social está tímida", afirmou.
Logo depois, ainda falando aos jornalistas, voltou às críticas. "Tem que ter vontade política de fazer", disse ele, referindo-se à suposta timidez do governo na área social.
Ao responder sobre o que seria esta "vontade política", o ministro disse: "Chama, mobiliza e faz".
"Besteiras"
Motta também reconheceu problemas na atuação política do governo. "Ocorreram algumas besteiras de ordem política e de encaminhamento de questões no Congresso", disse ele.
A afirmação foi feita depois que o deputado Edinho Bez (PMDB-SC) criticou a postura do governo diante de seu partido.
Segundo Bez, o governo deixou que o PT capitalizasse politicamente o aumento do salário mínimo sendo que o PMDB seria o responsável pela medida. "Falta tesão", disse o deputado, referindo ao ânimo dos peemedebistas para brigar pelo governo.
Motta afirmou que começará a despachar às terças e quartas-feiras na liderança do governo no Congresso para "resolver dúvidas" dos parlamentares.
O ministro disse que aceitará indicações feitas pelo PMDB de profissionais do setor para ocupar postos do Ministério das Comunicações em São Paulo, Estado governado pelo tucano Mário Covas.
"O PMDB também apóia o governo", disse.

Colaborou GILBERTO DIMENSTEIN, enviado especial a Nova York.

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