São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Para Globo, liderança é cada vez maior

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em entrevista por fax, o vice-presidente executivo da Rede Globo, Roberto Irineu Marinho, afirma que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) é o principal responsável pelo êxito da emissora.
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A imprensa vem noticiando que a Rede Globo sofrerá mudanças administrativas em breve. Quais?
A Globo tem a preocupação de acompanhar o ambiente externo e as transformações que nele ocorrem. É, portanto, uma empresa em constante evolução. O resultado disto é a excelente qualidade de nossas novelas, minisséries, telejornalismo e serviços.
As mudanças teriam relação com o aniversário da emissora?
Queremos fazer das comemorações dos 30 anos um marco da nossa maturidade, motivando todos os segmentos da Rede Globo para que façam uma reflexão sistematizada do que significa trabalhar em uma empresa de sucesso que pretende continuar investindo em sua expansão.
Estas mudanças irão se refletir no vídeo ou a Globo não mexe na programação?
Nossos clientes são os telespectadores e anunciantes. É por eles que a Rede Globo existe e é a eles que ela presta serviços. As mudanças que fizemos em nossa programação ao longo dos anos -e que foram inúmeras-, e as que iremos fazer, estarão sempre voltadas para acrescentar valor ao telespectador e ao anunciante. A grade que temos atualmente é a que consideramos adequada para atender aos nossos clientes. E ela será sempre modificada para acompanhar a evolução do país e, em particular, as do mercado de audiência e publicidade.
Em relação ao jornalismo, nossa evolução também tem sido permanente. É cada vez maior a presença da Globo nos acontecimentos nacionais e internacionais e a realização de coberturas cada vez mais completas. É cada vez maior a isenção e neutralidade das coberturas, ouvindo-se sempre todos os lados envolvidos.
Os jornais publicam notas dizendo que o vice-presidente de Operações, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), já não tem tanto poder dentro da Globo. É verdade? A Globo está preocupada com o fato de quase todas as decisões artísticas da empresa estarem nas mãos de um único funcionário (Boni)?
O Boni sempre foi e continua sendo o principal responsável pela nossa programação e produção, e pelo enorme sucesso no vídeo. Ele teve, tem e continuará a ter o poder de tomar todas as decisões que competem à vice-presidência de Operações. Este é o modelo de administração em que acreditamos.
Uma das premissas do nosso Programa de Gestão Participativa explicita isso claramente: 'processo decisório participativo e tomada de decisão pela chefia'. É assim que buscamos trabalhar na Globo. Todos os nossos profissionais se envolvem no desenvolvimento dos projetos, das idéias; trabalham para fazer o melhor e têm o verdadeiro 'prazer de fazer bem feito'. Mas a responsabilidade final pelas decisões é sempre do executivo principal de cada área.
Como a Globo pretende enfrentar a concorrência de outras emissoras abertas e dos canais por assinatura? Planeja abrir mais espaço a produções independentes?
Analisando nossa preparação para a provável invasão de canais de TV por assinatura, temos a observar:
a) A experiência do mercado americano está sendo cuidadosamente considerada por nós: como a TV por assinatura está entrando no Brasil tardiamente, teremos a vantagem de não cometer os mesmos erros de nossos companheiros americanos. As "networks" (grandes redes) dos EUA, inclusive, já reaprenderam o caminho de casa e agora estão voltando a crescer no mercado de audiência e no mercado publicitário. Na última temporada, a performance das redes foi excelente, enquanto houve queda substancial no resultado da TV por assinatura.
b) A Globo se define como uma emissora de massa, nosso mercado é diverso do das TVs por assinatura, que é segmentado e visa a atender públicos especializados. Nossa preparação tem sido: garantia de permanente inovação e qualidade para a programação da Globo, fazendo com que a nossa TV aberta seja sempre a opção preferencial da grande massa de telespectadores.
Em relação às produções independentes, um dos principais fatores de sucesso da Rede Globo foi, e continua sendo, a capacidade de construir uma programação que atenda ao mesmo tempo às necessidades dos telespectadores e do mercado publicitário. O nosso principal ativo é contar com uma estrutura de programação criativa e inteligentemente integrada. Para isto, a maior parte de nossas produções precisa ser planejada e concebida internamente, seguindo um invisível, mas fundamental, "fio condutor" que amarra diversos produtos numa estrutura global de programação. É difícil encaixar nesta programação produções que não foram concebidas com esse fim. Eventualmente, compramos material produzido por terceiros e continuaremos fazendo sempre que eles não façam parte do núcleo central de nossa programação.
A Globo teme perder a liderança de audiência?
Não. Estamos aumentando e consolidando nossa liderança ano após ano. Registramos, inclusive, que o sucesso de nossa programação nunca esteve tão alto. As novas produções e novos programas de jornalismo, por exemplo, têm tido uma receptividade muito superior à do passado.
Ainda que não perca a liderança, é provável que a Globo passe a ter, com o tempo, índices menores de audiência em função do crescimento das demais emissoras abertas e dos canais por assinatura. O sr. está preocupado com isso?
Vemos esta questão por outro ângulo. O Brasil é um país em pleno desenvolvimento e tende a crescer. Os espaços do mercado serão, portanto, maiores para todos os participantes. A Globo se preocupa sempre com a concorrência. E pretende manter a liderança neste mercado crescente.
A audiência média da Globo caiu?
Nestes anos, a audiência média da Globo só cresceu. Houve, no entanto, uma mudança no método de pesquisa. Por isso não se pode comparar índices da pesquisa domiciliar de flagrante (Ibope) com os da pesquisa eletrônica (DataIbope), utilizada atualmente.
Na pesquisa antiga, domiciliar, só eram considerados aparelhos desligados aqueles que, com a família em casa, estavam sem uso no momento. Casas cujos moradores estavam ausentes não eram computadas na pesquisa. O número de aparelhos ligados, com esse método, estava inflacionado.
Mas, independentemente da mudança de aferição, nossa participação no mercado nacional aumentou. Há um desempenho extraordinário nos horários vespertino e de fim-de-noite. No horário nobre, recuperamos em 93 os melhores níveis. O domingo passou a ser inteiramente dominado pela Globo.
Além disso, nossa cobertura melhorou sensivelmente com novos transmissores nas principais capitais e a extensão da rede, que passou a contar com 86 emissoras geradoras, 910 pontos de satélite e 2.000 repetidoras. Somente a Rede Globo cobre 100% do território brasileiro com sinal confiável e de alta qualidade.
É verdade que o apresentador Cid Moreira deixará o "Jornal Nacional" ainda este ano?
Nada a este respeito foi discutido na alta direção da empresa. É evidente que ele deverá aposentar-se, como também o fará o dr. Roberto Marinho (presidente das Organizações Globo), nos próximos 200 anos.

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