São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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PDT e PT 'namoram firme', mas descartam possibilidade de fusão

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

As lideranças nacionais do PT e PDT confirmam que os dois partidos estão "namorando firme", mas descartam um casamento (a fusão entre as duas legendas) no futuro previsível.
A hipótese de uma fusão futura ficou insinuada em entrevistas que os pedetistas Leonel Brizola, presidente nacional, e Darcy Ribeiro (senador pelo RJ) deram a diferentes programas de TV na semana passada.
"Temos 15 anos de controvérsias que não se eliminam de um dia para o outro", diz Neiva Moreira, presidente nacional interino do PDT, durante a viagem de Brizola à China.
Confirma de seu lado Luiz Inácio Lula da Silva: "Fusão de partidos não é uma coisa simples".
Ação conjunta
O "namoro" entre as duas legendas está limitado a uma ação conjunta contra a agenda de reformas constitucionais lançada pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Mas Neiva Moreira já pensa em um entendimento mais amplo para as eleições municipais de 1996, que tendem a ser um primeiro teste para o governo FHC.
Lula descarta até esse objetivo relativamente limitado. "Se a gente começar a discutir 1996 agora, pode ter mais problemas do que soluções", diz o líder petista.
Seria, em tese, um encontro destinado a aprofundar o "namoro" e tentar olhar algo além da aliança contra as reformas.
Lula e Gilberto Carvalho, secretário-geral do PT, confirmam que uma nova conversa com Brizola ficou agendada depois do primeiro encontro no Rio, mas dizem que nem a data nem a agenda estão definidas.
Fica evidente que o esforço, de parte a parte, é mais para quebrar o gelo do que para construir algo mais sólido para o futuro imediato.
"Trata-se de um grande desarmamento de espíritos", define o pedetista Neiva Moreira.
"Vamos deixar as divergências de lado e procurar as convergências", reforça Lula.
Nesse esforço, o PT acaba de descobrir que a legislação para a propaganda eleitoral que valeu para o pleito de 94 é uma idéia originalmente pedetista, mais precisamente de Miro Teixeira (RJ), hoje líder do PDT na Câmara.
Propaganda eleitoral
Em conversa recente com Lula e Gilberto Carvalho, Miro contou que foi dele a iniciativa de defender uma legislação que proibisse trucagens, efeitos especiais e o uso de artistas e convidados para expressar apoio a candidatos.
Esse tipo de artifício fora bem usado pelo PT em campanhas anteriores.
O PT atribuía inicialmente ao então deputado José Serra (PSDB-SP), hoje ministro do Planejamento, a idéia da legislação restritiva.
Miro contou que o PDT calculava que, ao vivo e sem truques, Brizola se sairia muito melhor do que Lula na TV, em um momento em que a eleição parecia encaminhar-se para uma polarização entre os dois.
O PT faz também uma autocrítica em relação a sua abordagem da chamada "questão nacional".
"Não conseguimos dar a devida importância à questão nacional, o que o Brizola fez, à sua maneira. Agora que as reformas constitucionais representam uma ataque à autonomia nacional, há uma natural reaproximação", diz Gilberto Carvalho.
"Não quero descartar a tese da fusão, mas factualmente não há nada de concreto", diz Carvalho.

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