São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Sem dinheiro, ministros suspendem obras

JOMAR MORAIS; MÔNICA IZAGUIRRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de quatro meses depois de empossado, o governo Fernando Henrique Cardoso está paralisado -pelo menos nas áreas onde a ação oficial só é visível quando transformada em obras.
Apesar das expectativas de mudanças, não há dinheiro para os novos projetos e a execução de muitos projetos antigos está suspensa. "Até aqui tenho feito milagres", diz o ministro dos Transportes, Odacir Klein. "Mas não se faz milagre por muito tempo", desabafa.
Dono de um Orçamento de R$ 680 milhões para 95, Klein diz que só poderia fazer "o mínimo" se os recursos do Tesouro Nacional estivessem efetivamente em seu cofre.
No primeiro trimestre só recebeu R$ 25 milhões -menos de 5% do total- e gastou parte do seu tempo explicando a 350 parlamentares, 18 governadores e 80 prefeitos que o procuraram em seu gabinete o porquê de tão poucas realizações.
Tudo que o Ministério dos Transportes conseguiu fazer foi restaurar uma ponte em Lajeado (RS) e inaugurar uma variante de ferrovia de apenas dez quilômetros, em Araçatuba (SP).
Meio Ambiente
Klein é um ministro de sorte. Se estivesse na pele do ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause, a lamúria seria ainda maior.
A Folha apurou que, dos R$ 806 milhões alocados no Orçamento para o Ministério do Meio Ambiente este ano, foram liberados até agora R$ 2,8 milhões.
Na prática, isso significa que a pasta está engessada e mal consegue administrar o custeio de seus principais órgãos: o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis), a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) e o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).
Krause, um pefelista de estilo "soft", pouco chegado a demonstrações públicas de descontentamento, interpreta assim a paralisia governamental: "Somos um ministério que não contribui para o déficit público. Um terço de nossos investimentos são apoiados em créditos externos", diz.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, de R$ 435 milhões previstos para investimentos, R$ 112 milhões terão origem em convênios e financiamentos do exterior.
O otimismo de Krause faz com que ele seja capaz de passar horas falando do contrato no valor de US$ 19,2 milhões a ser assinado este mês com o governo alemão para desenvolvimento de projetos de conservação e preservação da Amazônia e da Mata Atlântica.
Sem verbas, os ministros reagiram. No início, os ataques se dirigiram aos ministros do Planejamento, José Serra, e Fazenda, Pedro Malan (veja texto abaixo).
Como os ataques não produziram efeito, o alvo passou a ser o secretário do Tesouro, Murilo Portugal, o guardião do cofre.
Portugal é acusado de desobedecer instruções supostamente dadas por Malan e Serra a outros ministros. A queixa agora é que ele não libera dinheiro nem mesmo quando já existe a ordem dos ministros José Serra e Pedro Malan.

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