São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Padre proíbe camisinha em Pirenópolis

FERNANDO MOLICA
ENVIADO ESPECIAL A PIRENÓPOLIS (GO)

A ação de um padre fez com que Pirenópolis, cidade histórica com 25 mil habitantes a 165 km de Brasília, se transformasse talvez no único local do país em que a venda de camisinhas caiu no último ano.
A estratégia do padre Joel Alves de Oliveira, 35, foi simples: disse que os donos de farmácias que vendessem camisinhas e pílulas anticoncepcionais não poderiam mais comungar (receber a hóstia, uma partícula de massa de pão que, para os católicos, é o corpo de Jesus Cristo).
Aos fiéis, disse que o uso de preservativos e pílulas era um pecado grave, incompatível com quem quer, na comunhão, receber o corpo de Cristo.
O resultado foi imediato: das seis farmácias e drogarias da cidade, cinco pararam de vender os produtos interditados. A sexta drogaria pertence a evangélicos, que ignoram as exigências do padre.
Representante do armazém Martins -empresa de distribuição de diversos produtos, entre eles camisinhas e pílulas-, Galeno Lopes Sabino, 39, afirmou que a venda de preservativos em Pirenópolis caiu 75% depois da campanha do padre Joel.
Antes da campanha, eram vendidas cerca de 600 caixas de preservativos (com três unidades cada) por semana na cidade; depois, esse número caiu para cerca de 150 caixas semanais.
Levantamento concluído em janeiro passado pela Nielsen Serviços de Marketing indicou que, no ano passado, as vendas de camisinhas no Brasil foram 23% superiores às registradas em 1993.
Vice-prefeito da cidade e dono da drogaria Pirenópolis, Geraldo Santana de Oliveira, 40, vendia camisinhas há 22 anos.
Parou há seis meses -hoje, em seu estabelecimento não há preservativos ou pílulas. A decisão, segundo ele, gerou uma perda de 20% do seu faturamento.
As determinações do padre acabaram gerando lucro para o casal de evangélicos. "Foi ótimo. Só no Carnaval vendemos 500 caixas", disse Ribeiro. A cidade recebe milhares de turistas no Carnaval.
O padre agora quer convencer os donos de bares a não servir bebidas alcoólicas no balcão. Até agora não convenceu ninguém, mas disse que agirá com o mesmo rigor.

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