São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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70% de operários têm dano auditivo

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

Exames realizados em operários de indústrias de Sorocaba (87 km a Oeste de SP) apontam que 70% têm perdas de audição provocadas por excesso de ruído no ambiente de trabalho.
A pesquisa faz parte da Campanha Contra a Surdez Ocupacional, desenvolvida pelo Núcleo Sindical de Saúde do Trabalhador, e será concluída em junho.
"Devido à porcentagem alarmante constatada nos exames, resolvemos divulgar os resultados preliminares", disse o médico Roberto Carlos Ruiz, 29, coordenador do trabalho.
Os trabalhadores que participam da pesquisa são voluntários. Eles se submetem a um exame chamado audiometria, que mede a condição do aparelho auditivo.
Segundo Ruiz, dos 30 trabalhadores já examinados, 21 apresentaram problemas, que vão desde perdas leves de audição até zumbido no ouvido e surdez parcial.
A classificação das perdas auditivas, feita com base em tabela internacional, vai dos graus 1 (leve) a 5 (muito grave).
Para Ruiz, as deficiências auditivas desses operários são motivadas por dois fatores: excesso de ruído nas fábricas e equipamento de proteção ineficaz.
O Ministério do Trabalho estabelece em 85 decibéis o limite máximo de ruído em locais de trabalho. É o barulho equivalente ao provocado pelo trânsito de uma rua movimentada em horário de tráfego intenso.
O médico diz que os equipamentos de segurança não protegem o ouvido do trabalhador.
"A maioria das indústrias só utiliza EPI (Equipamento de Proteção Individual), como os fones de ouvido com espuma, que estão se mostrando ineficazes."
Não há tratamento para reverter deficiência auditiva e surdez. Um aparelho para diminuir o problema custa em média R$ 800 (pouco mais de dez salários mínimos).
O eletricista Arcângelo Ribeiro de Souza, 45, um dos trabalhadores avaliados pela campanha, diz que sente um zumbido no ouvido há cerca de quatro anos.
"Parece um rádio fora de sintonia", conta ele, que tem perda auditiva de grau 2 (razoável) depois de trabalhar por 26 anos em indústrias metalúrgicas.

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