São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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GAROTO METIDO A BESTA

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Mark Ramos Nishita, o tecladista atleta (categoria salto em altura durante shows) dos Beastie Boys, passou os dias em que esteve em São Paulo atendendo a imprensa internacional.
O telefone de seu quarto, no hotel Crowne Plaza, recebeu chamadas das publicações "Vox" e "Melody Maker", rasgando elogios para seu primeiro trabalho solo.
O projeto "Mark's Keyboard Repair", que a Folha ouviu com exclusividade, merece toda a babação. Quem delirou com o instrumental "Rick's Theme" no show dos Beastie Boys já sabe do que se trata.
Mark, que adotou um apelido de adolescência para assinar o disco, Money Mark, toca blues com referências de jazz, funk e psicodelia. Não dá para ser mais "cool" (no sentido jazzístico do termo, a escola musical iniciada por Miles Davis).
Pense em Funkadelic com produção de Jimmy Smith (produtor dos Rolling Stones no final dos anos 60) ou Tom Waits acompanhado por Brian Eno ao órgão.
Como Eno, Mark é obcecado por ambiências. Ele carrega um pequeno gravador para todos os cantos a que viaja. Grava o trânsito, as vozes, os barulhos.
No Brasil, gravou o som do berimbau que comprou numa loja de instrumentos musicais. Alterando a velocidade do gravador, ele deu ao berimbau o som de um sintetizador eletrônico.
Ele prefere usar tecnologias mais baratas e simples, como um gravador, ou sua coleção de teclados análogos (sem "chips" de computador).
"Como vocês podem fazer música aqui", ele quer saber, depois de olhar as lojas de São Paulo, "se os únicos instrumentos que podem comprar são de último tipo?".
Sua relação de "amor e ódio" com a tecnologia fez com que ele lançasse "Mark's Keyboard Repair" apenas em vinil. O produto vem em uma caixa de metal. São três discos de dez polegadas (menor que um LP, mas maior que um compacto)
A paixão pelo lado rústico da tecnologia vem de sua outra atividade. Mark também é carpinteiro. Foi assim que conheceu os Beastie Boys.
"Os Beastie Boys tinham acabado de se mudar para Los Angeles", Mark conta. "Alugaram um casa enorme em Hollywood Hills e me chamaram para consertar o portão eletrônico. O pequeno Adam (MCA) foi com a minha cara e me convidou para a festa de inauguração da casa."
Na festa, rolou um show e Mark pôde mostrar o que sabia num teclado. Não era a primeira vez que subia num palco. Mark já tinha rodado a cena do rock californiano, chegando a tocar na banda do filho de Bob Dylan, Wallflower.
Poucos dias após a festa, depois do lançamento do disco "Paul's Boutique" (1989), dos Beastie Boys, Mark recebeu um convite dos rappers para gravar uma faixa.
"Eles queriam voltar a gravar com instrumentos de verdade", diz o tecladista. "Daí, pensaram: 'o cara toca e é carpinteiro. Ele pode fazer parte da banda e ajudar a construir o nosso estúdio, ao mesmo tempo. Perfeito!' "
O tecladista é o "quarto Beastie" na foto do encarte do álbum "Check Your Head".
Mas no seu disco, Mark quer ser apenas o carpinteiro. Ele toca todos os instrumentos, produz, é o técnico de som, o mixador e o dono da gravadora (chamada Love Kit).
A disciplina é totalmente zen. Mark Ramos Nishita, como revela o nome, tem sangue japonês (e mexicano).
"Eu mesmo conservo e conserto meus teclados", ele diz, referindo-se ao título do álbum (a oficina de teclados de Mark). "A auto-eficiência faz parte da minha metodologia."
Como a história do homem que sonhou que era borboleta (e/ou vice-versa), ele compôs uma música sobre alguém obcecado por insetos. "É a história de um homem que passou a vida estudando o som dos insetos", ele explica. "E às vezes eu me sinto como este homem."
Interessados nos discos de Money Mark podem pedí-los pelo correio. O endereço é: Pinto, P.O.Box 597, Gardena, Califórnia, CA, 90248. Os discos não serão lançados no Brasil.

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