São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995 |
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Você é aquilo que você veste para receber prêmios
ANDRÉ FORASTIERI
Era um grupo de pessoas que apareceu bastante entre 80 e 83, que tocava num lugar que não existe mais chamado Lira Paulistana, e vira e mexe estava num programa da TV Cultura chamado "Fábrica do Som". A "vanguarda paulistana" era composta por Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. O que deu para entender é que os dois acham que depois deles não apareceu nada mais vanguardista. O Itamar disse que desde Chico Buarque e Caetano Veloso não se faz nada novo no país. A questão não é se você gosta ou não dos citados. A questão é que Chico e Caetano são "o sistema". Gente que usa smoking para receber prêmios da indústria. Ainda que eu tenha gostado de "Paratodos"... E Arrigo e Itamar são o underground oficial, que se é oficial, não é underground. Só resta para gente assim reclamar do público (que não entende sua genialidade) e da mídia (que não "apóia o trabalho"). Mas tudo bem. A grande notícia está em algum lugar deste caderno: a volta das rádios rock. Volta não, porque elas não chegaram a sumir. Só tomaram umas porradas e agora estão por aí revidando. Não tem CD super-estéreo de altíssima definição que se compare à diversão e emoção de ser pego de surpresa por uma música no rádio. A combinação de estar em movimento ouvindo uma programação igualmente em movimento é muito legal. Mesmo quando toca aquela música que você odeia mas que de tanto ouvir acaba até gostando. E se não gostar nem assim, troca de rádio ué. A MTV tem esse problema, que não dá para trocar de MTV. Tem duas soluções para este problema. Uma é trocar de 15 em 15 segundos de canal. Assim, se na MTV a coisa estava chata, faço eu minha própria MTV passeando por todos aqueles canais alemães, espanhóis, americanos e (até) brasileiros. Não faço idéia de como eu vivia antes de existir TV a cabo. A outra solução é tirar o som da MTV e pegar alguma coisa para ler. Mas a MTV, como a maioria das rádios rock, te vencem pela insistência. Depois de uma meia hora vegetando em frente da MTV, dá preguiça de tirar o som. Dá preguiça de ler. Dá preguiça de qualquer coisa que exija o mínimo de energia, iniciativa ou discernimento. Estava reparando outro dia no Aerosmith. Tenho alta simpatia pela banda. O Aerosmith é a coisa mais genérica e qualquer nota que se pode imaginar. É tudo sempre a mesma coisa e sempre absolutamente perfeito na sua absoluta falta de caráter, identidade, seriedade e todas essas outras coisas que não valem nada no mundo do rock. Mas por alguma razão, não consigo ouvir um CD do Aerosmith. Quase dormi na primeira audição de "Get a Grip". Só quando vão estreando os vídeos é que vou me rendendo. Não resisto àquela combinação Steven Tyler se esfregando em qualquer lugar como uma cadela no cio. Espera aí: como é que dispenso dinossauros brasileiros e encho a bola de um dinossauraço gringo como o Aerosmith? Ahnn, não tem nenhuma boa razão para isso não. A não ser que Caetano Veloso recebe seus prêmios de smoking e uma saia muito elegante. E Steven Tyler recebe os prêmios vestindo um colã de oncinha, fraque de lamê, echarpes fúcsia e barriga de fora. Texto Anterior: GAROTO METIDO A BESTA Próximo Texto: 'Novíssimos Baianos' atacam de reggae em SP Índice |
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