São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Bolívia prende 130 plantadores de coca

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ (BOLÍVIA)

Mais de 130 pessoas foram presas e 8 ficaram feridas no final de semana durante enfrentamentos entre as Forças Armadas e plantadores de folhas de coca.
Os confrontos ocorreram na região de Chapare -entre Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra- quando os "cocaleros "resistiram à ação do Instituto Geográfico Militar para cadastrar áreas de plantio da coca a serem erradicadas.
Os plantadores usaram dinamite, foices e pedras contra cerca de cem militares, que responderam com gás lacrimogêneo e tiros.
Com as prisões, subiu para mais de 450 o número de pessoas detidas na Bolívia desde quarta-feira passada, quando foi decretado o estado de sítio no país.
A maioria dos presos é formada por sindicalistas que vinham realizando violentas manifestações por aumentos salariais e contra as reformas econômicas do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada.
Os sindicalistas estão detidos em cinco locais distantes de La Paz. Ontem foi confirmada a queda de um avião da Força Aérea que levava comida para 77 presos na cidade de Apolo.
O coronel Luis Caballero, que comanda as operações em Chapare, reforçou ontem as tropas na região. Os "cocaleros" prometem bloquear estradas hoje.
Os plantadores de folhas de coca acusam o governo de estar usando o estado de sítio para extrapolar sua intenção de erradicar 5.400 hectares de plantações de coca até o final do ano.
A erradicação é parte de um plano financiado pelos Estados Unidos, que consome 80% da cocaína no mundo. A Bolívia é o terceiro produtor.
Mais de 250 mil pessoas vivem do plantio da coca em 12 mil hectares no país. O plantio em grande escala começou no século 16.
Os "cocaleros "são parte dos 70% da população da Bolívia (oito milhões) que sobrevivem hoje com renda menor do que US$ 1,00 ao dia, segundo dados do Banco Mundial.
O deputado Guido Riveros (do MIR), líder da oposição, disse à Folha que o problema da coca na Bolívia é sócio-econômico. "A erradicação pela força vai gerar uma convulsão social", diz.
O governo promete indenizar os "cocaleros" com até US$ 2.500 por hectare erradicado, mas os líderes dos plantadores não acreditam nessa promessa.
O cultivo e porte de folhas de coca é legal na Bolívia. Mas o governo teria recebido ultimato dos EUA para erradicar as plantações.
Na Bolívia, Peru e Colômbia existem cerca de 8 milhões de pessoas -a maioria descendente dos indígenas quechua e aimara- que mascam ou tomam chá de folhas de coca regularmente.
Há nos três países cerca de 1,3 milhão de pessoas vivendo do cultivo da coca.
O governo boliviano diz que 95% das plantações no país são usadas para a produção da cocaína.
O embaixador dos EUA na Bolívia, Curtis Kamman, disse ontem em La Paz que "todos os plantadores de coca participam da produção de cocaína" na Bolívia.
Cerca de 48% dos bolivianos aprovam a erradicação, segundo pesquisa divulgada ontem pela Universidade Católica da Bolívia.

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