São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Florestan educador; Governo X Congresso; Carroça lenta; Perda da memória; Preconceito; Resposta oportuna; Estado amador; Juros extorsivos; Niemeyer; Combate à ignorância; Nossos bebês

Florestan educador
"O que está em questão no debate entre os dois eminentes educadores Florestan Fernandes (Folha, 12/04/95) e Darcy Ribeiro (Folha, 23/04/95) é uma concepção da política e, em particular, da política educacional. O projeto de LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) de Darcy Ribeiro não foi discutido com a sociedade. Ao contrário, o projeto defendido por Florestan Fernandes é representativo de todos os setores da sociedade brasileira. Mesmo assim, o relator do projeto de LDB da Câmara, o senador Cid Sabóia de Carvalho, levando em conta os méritos do projeto de Darcy Ribeiro, incorporou no seu substitutivo ao projeto de pei na Câmara várias de suas teses. Por isso, era de se esperar que Darcy Ribeiro não ressuscitasse seu projeto pessoal e deixasse caminhar mais rapidamente o processo de aprovação da LDB que está em gestação no Congresso desde 1989, e que tem certamente seus problemas, mas é o que a sociedade está exigindo hoje. Tem razão Florestan Fernandes de protestar."
Moacir Gadotti, professor da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP)

Governo X Congresso
"Em sua coluna de 22/04, Gilberto Dimenstein atribui culpa subsidiária ao governo pelo fato de o Congresso não perceber que a reforma constitucional é uma prioridade, vital para o objetivo de garantir estabilidade. Mas não é da essência da função do Congresso interpretar as necessidades do país e, aprovando leis adequadas, obrigar o governo a atendê-las da melhor forma possível? Para isso não conta com um número elevado de parlamentares e com um exército de assessores, todos regiamente remunerados com o dinheiro do contribuinte? O governo tem ainda que ensinar ao congresso o que é ou não importante, o que deve ou não ser feito?"
Sérgio Faraco (São Paulo, SP)

Carroça lenta
"Pela enésima vez, vem um ministro anunciar que o governo considera o consumo muito elevado, e que estuda meios para freá-lo. Isso nos leva a uma só conclusão: que o governo não deseja e nunca desejou que o povo melhore sua condição de vida. O governo, junto com a elite e os banqueiros, conduz uma carroça (o Brasil), puxada por um burro magro (o povo). Com uma vara, seguram pendurada na frente do animal uma touceira de capim (as reformas, uma vida melhor, o consumo etc.), que o coitado, por mais rápido que ande, nunca vai alcançar."
Gilberto Rios (São Paulo, SP)

Perda da memória
"É sabido que em nosso país, infelizmente, inexiste o hábito de privilegiar ou resguardar os valores nacionais. É mais fácil, está na moda, é moderno, imitar em tudo, países estrangeiros. O resultado é lamentável, até patético: o Brasil perde grande parte de sua memória. É o que está ocorrendo com a extinção do periódico D. O. Leitura, caderno literário da Imprensa Oficial do Estado, cujo mérito era trazer a público, de maneira correta, séria e elegante, dada à qualidade dos colaboradores e do editor, Wladimir Araújo, fatos de relevante importância da cultura brasileira. D. O. Leitura fazia o que faz falta neste país: contava o que é Brasil."
Niomar de Souza Pereira, presidente da Associação Brasileira de Folclore (São Paulo, SP)

Preconceito
"Em seu artigo de 12/4, o sr. Hélio Schwartsman faz transparecer um preconceito extremado contra os nipônicos. Diz o colunista que o presidente Fujimori, do Peru, foi reeleito porque inventou uma guerrinha ridícula contra o Equador; não é verdade, quem iniciou a guerrinha, como diz o colunista, foi o Equador. El Chino ou Chinochet, melhorou um bocadinho a economia do Peru vendendo as estatais; novamente não diz a verdade. A economia do Peru apresentava uma inflação crônica da ordem de 28.000% ao ano em 1990, a inflação em 1994 baixou para 15% ao ano e a economia cresceu 12,5% ao ano, se isso for um bocadinho melhor, torço para que a nossa economia melhore um bocadinho do bocadinho. Não estou defendendo a política do presidente Fujimori, estou colocando alguns fatos. Quanto aos prefeitos eleitos de Tóquio e Osaka, apesar de serem ex-comediantes, são cidadãos honrados, preparados, politizados e cultos. Acima de tudo são pessoas muito próximas do povo e muito bem relacionadas com o mesmo, portanto, sabedoras dos seus anseios. Não são palhaços como diz o colunista em seu artigo, cheio de preconceito com os nipônicos."
Massru Marui (São Bernardo do Campo, SP)

Resposta oportuna
"Parabéns a Arnaldo Beltrami pelo artigo 'O jornalista ovacionou o cardeal' (Tendências/Debates, 21/4), que foi uma resposta necessária, precisa e oportuna. Obrigado Arnaldo, o final do artigo afirma o que é claro/verdade: o Josias está por fora da caminhada da igreja de São Paulo, ele deveria se informar mais!"
Paulo Roberto Guimarães (São Paulo, SP)

Estado amador
"Sou um empresário que (a exemplo de milhares de outros) sobrevivo apesar do Estado e não graças a ele, como generalizou o sr. Motta. E isso ocorre porque o Estado é dirigido por gente que nunca emitiu uma nota fiscal, nem precisou se virar para poder cobrir uma folha de pagamento. São amadores que acham que os problemas do mundo se resolvem com uma portaria publicada no 'Diário Oficial', ou com um bom aumento de impostos."
Sergio Martins (Santo André, SP)

Juros extorsivos
"Os antigos diziam que existiam duas pragas que dilapidavam os bens da família: jogo e amantes. Hoje podemos acrescentar mais duas: bancos e agiotas. Já se passaram dez meses de Plano e os juros -essa praga- não abaixam. Até quando o governo vai permitir essa farra?"
Gumercindo Lacerda (Sarandi, PR)

Niemeyer
"Coincidentemente, tive a ocasião de conversar com a metade dos arquitetos citados por Ricardo Semler em sua crônica de domingo. R. Rodgers e I. M. Pei, em Paris, e S. Bernardes, no Rio de Janeiro, me marcaram por demonstrarem reconhecimento pela contribuição de Niemeyer à arquitetura neste século. O trabalho de P. Johnson, desde Nova York, mostrou três mudanças radicais de orientação e passava então por uma etapa na qual se referia a exemplos do mestre brasileiro. Semler foi, sem dúvida, lúcido na sua ira contra os festins mediáticos dos Collors, Quércias e Mirandas que nos rebaixam. Foi, porém, desavisado ao vincular o trabalho de Niemeyer que os precedeu e, certamente, os sucederá e que enaltece a todos nós."
Ricardo Caruana (São Paulo, SP)

Combate à ignorância
"Sou professora 3, 63 anos de idade, com aposentadoria em trâmite. Apelo às cabeças pensantes para que me orientem na busca de uma sobrevivência condigna para uma professora (aquela categoria que certo político uma vez se referiu como sendo 'malcasadas', ou ainda, que aquele outro não menos infeliz afirmou que 'somos burras'), que trabalha desde 1958. Há sete anos (1988) aluguei um imóvel, cujo valor incluindo despesas como luz, IPTU e condomínio não ultrapassava um terço do meu salário. Hoje, meus vencimentos (R$ 346) e o aluguel inverteram seus papéis, ou seja, meu salário -tendo em vista o reajuste exigido pelos locadores- parcamente corresponde a um terço do mesmo. Qual o resultado? O imóvel foi pedido. Onde vou morar? Trabalhei muito, como qualquer professor, no combate à ignorância em prol da chamada 'glória da pátria', de uma maneira honrada, esperando na minha aposentadoria poder viver da mesma maneira."
Ivete A. S. Kemp (Campinas, SP)

Nossos bebês
"Sexta-feira, feriadão. Tristeza no caderno 'São Paulo'. Os nossos bebês foram substituídos por animais. Nada contra eles, são excelente companhia, fidelidade a toda prova. Será que nossos jovens estão confundindo as coisas? Criar filhos é difícil, dá trabalho, exige renúncias -e muito amor. Mas será que todas essas desculpas não são consequência do egoísmo em que, infelizmente, nós criamos a geração atual?"
Glória Alves Cruz (São Paulo, SP)

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