São Paulo, quarta-feira, 3 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo japonês traz kakubi surreal a SP

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Espetáculo: Suna - Zôo do Deserto
Companhia: Ban'yu Irnyoku
Onde: Teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, tel. 256-2322, região central)
Quando: amanhã (para convidados); sexta e sábado, às 21h, domingo, às 20h
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (comerciários)

O grupo de teatro Ban'yu Irnyoku é considerado uma das expressões mais contundentes da arte japonesa contemporânea.
A partir de amanhã, esta companhia de 30 atores, dirigida por J.A. Seazer, apresenta ``Suna", que já ganhou o cobiçado primeiro prêmio do Festival de Edimburgo, realizado anualmente na Escócia.
Literalmente, Ban'yu Inryoku significa ``gravitação universal". Segundo a imprensa internacional, que não mede elogios ao grupo, trata-se de um kabuki surrealista e modernizado, uma espécie de ópera-rock burlesca que, além de atores incomuns, faz uso da multimídia para produzir um teatro total.
J.A. Seazer, 47, afirma que a proposta do Ban'yu Inryoku é despertar as capacidades humanas que foram tolhidas com o desenvolvimento da civilização.
Também compositor e artista plástico, ele é sucessor de Shuji Terayama, que dirigiu o grupo Tenjo Sahajiki, onde surgiram as concepções hoje desenvolvidas por Seazer e seu elenco.
``Com a morte de Terayama, em 1983, pensei em abandonar o teatro. Mas nosso grupo me elegeu como o líder que daria continuidade ao trabalho. Terayama queria fortalecer o teatro por meio de elementos que estavam esquecidos pela civilização. Por isso, resgatou recursos de circo e as encenações de rua, que tinham como característica a provocação capaz de causar mudanças no cotidiano", explica Seazer.
Embora um dos pontos fortes do Ban'yu Inryoku seja o impacto visual, Seazer garante que este não é o maior objetivo do grupo.
``Para nós, todos os elementos cênicos são importantes. No Brasil, por exemplo, a peça será falada em japonês. Isto não interfere na compreensão, porque as frases têm o sentido de evocar uma lembrança ou despertar sensações."
``Suna" é uma das obras de maior sucesso do grupo. Seu tema é a distância e suas contradições.
``Por vezes, as relações humanas se estabelecem mesmo quando há uma distância física. Nossas palavras podem ser transportadas por meio de uma carta ou telefonema. Questionamos também essa relação que pressupõe um espaço que na verdade não se sabe o que é", diz o diretor.
Seazer afirma que ``Suna" também se baseia em metáforas do surrealismo, em que dimensões de grande e pequeno são medidas pela proximidade ou distância.
``Exploramos conceitos como a relação de dois espelhos que, colocados frente a frente, começam a refletir o infinito."
Sobre o elenco, que ele mesmo treina, Seazer salienta que todos os atores do Ban'yu Inryoku devem se manter em plena forma física, como se fossem atletas.
``Em geral são artistas amadores que, depois de alguns meses de workshop, podem enfrentar o público diretamente."
Para Seazer, não existem atores melhores ou piores. ``Procuro valorizar as diferenças de cada um, em vez de buscar um estereótipo ideal que todos têm que atingir."
Em um dos exercícios desenvolvidos por Seazer nos workshops, os atores chegam a ficar 24 horas seguidas num ambiente completamente escuro, para treinar habilidades como a velocidade e se mover sem enxergar.
``Isto porque todas as nossas mudanças de cena são feitas no escuro, com as cortinas abertas e os atores transformando a cenografia do palco."

Texto Anterior: Zé do Caixão ganha versão em HQ de 'À Meia-Noite Levarei Sua Alma'
Próximo Texto: Bomba! Bomba! Fundo de poço tem mola!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.