São Paulo, sexta-feira, 5 de maio de 1995
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"Angels in America" supera o preconceito

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se produzir uma peça de teatro já é normalmente difícil no Brasil, as complicações se multiplicam quando temas como Aids e homossexualismo estão envolvidos. É o caso de ``Angels in America".
Depois de 11 meses de dificuldades, finalmente começa a engrenar a produção brasileira do épico gay norte-americano de Tony Kushner, um dos maiores sucessos teatrais do planeta nos anos 90.
O diretor Iacov Hillel já tem fechados data e local de estréia. ``Angels in America - O Milênio se Aproxima", a primeira parte da saga de Kushner, desembarca em São Paulo em 14 de julho, no teatro João Caetano.
A batalha pelo patrocínio continua. Com um rol de cerca de 150 empresas já consultadas, a produção tem até o momento apenas promessas de patrocínio, mas nenhum contrato firmado ainda.
Hillel diz que o representante de um banco recusou patrocínio alegando que a empresa não patrocina peças polêmicas.
Ele conta que o diretor de marketing de outra empresa entusiasmou-se com a produção, mas, após uma reunião com a diretoria, voltou com a pergunta: ``Você não tem outro projeto?".
Hillel diz que não descarta a possibilidade de vender seu apartamento para completar o orçamento (de R$ 220 mil) que os patrocinadores relutam em assumir.
``Não quero me fazer de vítima", diz Hillel. ``A dificuldade de patrocínio não é um problema só nosso, é a realidade do teatro brasileiro, que vamos enfrentar."
Após longa busca por um teatro, Hillel conseguiu da Prefeitura o João Caetano, na Vila Mariana, com temporada de três meses.
Depois, a produção terá que procurar novo espaço para concretizar o objetivo de encenar também ``Perestroika", a segunda parte da peça, no mesmo espaço, em dias alternados.
A equipe, entusiasmada pelo projeto, procura superar as dificuldades. ``Elas me estimulam, mas tem horas em que você vai chorar num cantinho", diz Vitti.
``Às vezes, chega a dar vontade de parar de fazer teatro", diz o ator Cássio Scapin. ``Mas a peça é importante, discute uma nova conduta social que estamos sendo forçados a assumir".

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sobre ``Angels in America" à pág. 5-9

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