São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Bispos fazem divisão do poder na CNBB

FERNANDO MOLICA
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA (SP)

``Progressistas" e ``conservadores" se dizem vencedores das eleições realizadas na 33ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que será encerrada amanhã, em Indaiatuba (a 100 km de São Paulo).
No encerramento, o arcebispo de Salvador (BA), d. Lucas Moreira Neves, será empossado no cargo de presidente da entidade.
Os ``progressistas" enfatizam a atuação da igreja nas lutas políticas e sociais na ótica da ``opção preferencial pelos pobres".
Os ``conservadores" dizem que esta atuação social tem que ficar subordinada às práticas religiosas e ao anúncio da mensagem de Jesus Cristo.
Esse segmento do episcopado conquistou os dois cargos mais importantes da presidência da CNBB (os de presidente e de secretário-geral).
Seus adversários ``progressistas" ficaram com um maior números de vagas nas Comissões Episcopais de Pastoral e Doutrina.
A Comissão de Pastoral controla a execução de políticas da CNBB. Seus membros têm lugar na direção da entidade ao lado dos membros da presidência.
``Mudaram a placa, mas o carro continua o mesmo", avaliou o ``progressista" d. Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP).
A frase insinua que, apesar das mudanças na presidência, o controle dos trabalhos da CNBB continuará com os ``progressistas".
``Vamos ver se isto ocorrerá", desafiou o principal articulador da candidatura de d. Lucas para a presidência, d. Amaury Castanho, bispo-auxiliar de Jundiaí (SP).
``Tenho certeza que d. Lucas vai ocupar o espaço que lhe compete. Quem dirige o carro é que está ao volante", afirmou.
Nomes que constavam da chapa informal dos ``progressistas" conquistaram 8 das 9 vagas da CEP (Comissão Episcopal de Pastoral). Essa mesma corrente do episcopado conseguiu eleger 4 dos 5 integrantes da CED (Comissão Episcopal de Doutrina). A CED é responsável pela análise de questões doutrinárias e teológicas.
D. Amaury disse que as derrotas na CEP e CED eram esperadas. ``Nós investimos mais na disputa pela presidência", afirmou.
Para d. Demétrio, o plenário da assembléia buscou, com a eleição de d. Lucas, ``acabar com o ambiente de mal-estar" entre a CNBB e o Vaticano -o novo presidente da entidade é amigo há mais de 20 anos do papa João Paulo 2º e um de seus principais interlocutores no Brasil.
Para d. Demétrio, a eleição de d. Lucas deixou o caminho aberto para a escolha de uma CEP comprometida com o trabalho social da igreja. ``Se teve assim maior liberdade para se expressar o desejo de continuidade do trabalho".
Segundo o bispo de Jales, a eleição de d. Lucas permitirá acabar com o que ele classifica de um dos maiores problemas entre a CNBB e o Vaticano nos últimos anos: o ``paralelismo de informações e interpretações".
``Havia pouca credibilidade para as informações que a CNBB levava para lá. Isto gerava interpretações diversas que tinham audiência entre os integrantes da Cúria (espécie de ministério do Vaticano)", declarou.

Foram eleitos para a CED: d. Moacyr Grechi (Rio Branco-AC), d. Paulo Ponte (São Luís-MA), d. Aloísio Lorscheider (Fortaleza-CE), d. Clóvis Frainer (Juiz de Fora-MG) e d. Dadeus Grings (São João da Boa Vista-SP).

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