São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995 |
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Bispos fazem divisão do poder na CNBB
FERNANDO MOLICA
No encerramento, o arcebispo de Salvador (BA), d. Lucas Moreira Neves, será empossado no cargo de presidente da entidade. Os ``progressistas" enfatizam a atuação da igreja nas lutas políticas e sociais na ótica da ``opção preferencial pelos pobres". Os ``conservadores" dizem que esta atuação social tem que ficar subordinada às práticas religiosas e ao anúncio da mensagem de Jesus Cristo. Esse segmento do episcopado conquistou os dois cargos mais importantes da presidência da CNBB (os de presidente e de secretário-geral). Seus adversários ``progressistas" ficaram com um maior números de vagas nas Comissões Episcopais de Pastoral e Doutrina. A Comissão de Pastoral controla a execução de políticas da CNBB. Seus membros têm lugar na direção da entidade ao lado dos membros da presidência. ``Mudaram a placa, mas o carro continua o mesmo", avaliou o ``progressista" d. Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP). A frase insinua que, apesar das mudanças na presidência, o controle dos trabalhos da CNBB continuará com os ``progressistas". ``Vamos ver se isto ocorrerá", desafiou o principal articulador da candidatura de d. Lucas para a presidência, d. Amaury Castanho, bispo-auxiliar de Jundiaí (SP). ``Tenho certeza que d. Lucas vai ocupar o espaço que lhe compete. Quem dirige o carro é que está ao volante", afirmou. Nomes que constavam da chapa informal dos ``progressistas" conquistaram 8 das 9 vagas da CEP (Comissão Episcopal de Pastoral). Essa mesma corrente do episcopado conseguiu eleger 4 dos 5 integrantes da CED (Comissão Episcopal de Doutrina). A CED é responsável pela análise de questões doutrinárias e teológicas. D. Amaury disse que as derrotas na CEP e CED eram esperadas. ``Nós investimos mais na disputa pela presidência", afirmou. Para d. Demétrio, o plenário da assembléia buscou, com a eleição de d. Lucas, ``acabar com o ambiente de mal-estar" entre a CNBB e o Vaticano -o novo presidente da entidade é amigo há mais de 20 anos do papa João Paulo 2º e um de seus principais interlocutores no Brasil. Para d. Demétrio, a eleição de d. Lucas deixou o caminho aberto para a escolha de uma CEP comprometida com o trabalho social da igreja. ``Se teve assim maior liberdade para se expressar o desejo de continuidade do trabalho". Segundo o bispo de Jales, a eleição de d. Lucas permitirá acabar com o que ele classifica de um dos maiores problemas entre a CNBB e o Vaticano nos últimos anos: o ``paralelismo de informações e interpretações". ``Havia pouca credibilidade para as informações que a CNBB levava para lá. Isto gerava interpretações diversas que tinham audiência entre os integrantes da Cúria (espécie de ministério do Vaticano)", declarou. Foram eleitos para a CED: d. Moacyr Grechi (Rio Branco-AC), d. Paulo Ponte (São Luís-MA), d. Aloísio Lorscheider (Fortaleza-CE), d. Clóvis Frainer (Juiz de Fora-MG) e d. Dadeus Grings (São João da Boa Vista-SP). Texto Anterior: FHC ignora restrição de tucanos e dá posse a presidente do Incra Próximo Texto: 'Progressistas' se rearticulam para obter cargos Índice |
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