São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Médico afirma que não sabia de tortura

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Pérsio José Ribeiro Carneiro, acusado de atestar laudo que omite tortura em preso político durante o regime militar, alegou ontem, por meio de advogado, que não tinha ``subsídios" para afirmar isso no laudo de morte.
``Se eventualmente o corpo foi torturado, isso não foi dito a ele", disse o advogado Carlos Ricardo Milen, que representou o médico na primeira audiência do Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo, que durou três horas.
O CRM abriu processo disciplinar para apurar a responsabilidade dos médicos-legistas acusados de colaborar com a repressão política imposta pelo Movimento de 64.
O grupo de direitos humanos Tortura Nunca Mais afirma ter provas e testemunhas contra 24 de 66 médicos denunciados. Contra os outros, o grupo junta provas.
Carneiro assinou em 1971 laudo no qual atesta que Joaquim Alencar de Seixas, militante de esquerda e opositor ao regime militar, morreu baleado sete vezes.
No laudo, ao responder sobre se a morte foi produzida por tortura, o médico assinalou ``não" -apesar de descrever fraturas e hematomas no corpo de Seixas.
Seixas foi preso com sua família (mulher e três filhos) em 16 de abril de 1971, em São Paulo.
Segundo Ivan (filho de Seixas), no dia 17 de manhã os jornais já anunciavam a morte de seu pai em tiroteio. Na verdade, diz ele, Seixas morreu às 19h do dia 17, após 24 horas de torturas -das quais Ivan também foi vítima.
``No laudo, ele marcou o que viu. Se os hematomas foram causados por espancamento ou queda, para ele não importa", disse o Milen, advogado de Carneiro.
Segundo Cecília Coimbra, presidente do Tortura Nunca Mais, ``os médicos respaldavam a repressão com laudos confirmando as versões da ditadura, de tiroteio, atropelamento ou suicídio".
Esses médicos podem ser proibidos de exercer a profissão. Cada processo pode durar cinco meses.

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