São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Onda de calote chega à indústria

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O calote nas dívidas dos consumidores que invadiu o comércio em março e abril passados está batendo neste mês de maio nas indústrias e fornecedores de matérias-primas.
Áreas como distribuição de aço, material plástico, de construção e autopeças, alegam que o calote no comércio -que cresceu 266% em abril sobre o mesmo mês em 94, segundo a Associação Comercial- transformou-se em uma onda que agora atinge grande parte da cadeia produtiva.
Em alguns setores e empresas, o calote atinge 15% das vendas. Nos bancos, segundo a Folha apurou, a inadimplência (nos empréstimos) subiu de 2% para até 4%.
Como agravante, as empresas começam a detectar queda nas vendas -o que enfraquece ainda mais o caixa já combalido pela onda de calote que veio das lojas.
``O calote chegou até nós rapidamente e já criou um clima de terror", diz Horácio Lafer Piva, diretor do departamento de estatísticas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O empresário Carlos Loureiro, presidente do Grupo Rio Negro, o maior distribuidor de aços do país, disse que o número de maus pagadores subiu de 2% dos clientes para 13% nas últimas semanas.
``O calote está chegando aos últimos elos da cadeia produtiva", diz o empresário, que fornece aço para fabricantes de geladeiras, fogões, automóveis, máquinas etc.
Celso Hahne, presidente da Abiplast, que reúne fornecedores de plástico, disse que o ``efeito bumerangue" do calote no comércio fez endurecer as negociações com clientes. ``Quem não paga, não leva", diz.
Hahne disse que as vendas de seu setor -que abastece 13 grandes áreas- caíram até 10% em abril quando comparadas a março.
Na área de materiais de construção, a inadimplência dos consumidores pulou de 2% para 15% das vendas, segundo Claudio Conz, da Anamaco, que reúne os lojistas do setor. ``Com o juro alto, não dá para emprestar do banco para pagar fornecedor. Transferimos o calote para eles", diz Conz.

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