São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995 |
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Goleiro não quer perder a 'honra' do gol mil falso
RODRIGO BERTOLOTTO
A recontagem dos gols do camisa dez feita pela Folha mostrou que o salto de Andrada para defender o pênalti de Pelé no dia 19 de novembro de 69 não evitou, na verdade, o número 1.001. O milésimo gol aconteceu quatro dias antes, em João Pessoa, contra o Botafogo da Paraíba. "Eu vivi o milésimo gol e ninguém pode tirar isso de mim. Todos os sentimentos daquele dia são parte da minha vida", disse. Como tantos outros goleiros sul-americanos, Edgardo Andrada também era chamado de "El Gato", por sua elasticidade. Além do Vasco, defendeu o Rosario Central, da Argentina, e o Vitória, da Bahia. Ele foi entrevistado por telefone pela Folha, na cidade de Rosario, Província de Santa Fé, Argentina. Folha - Como foi o clima criado em volta daquela partida entre Santos e Vasco? Edgardo Andrada - Estava muito tenso. Quatro meses antes do jogo, o Fidélis (lateral-direito vascaíno) me disse que Pelé queria fazer seu milésimo gol no Maracanã e sobre o Vasco, porque ele era torcedor do time quando pequeno. Folha - Desde esse momento você ficou preocupado com isso? Andrada - É. Eu sabia que caberia a mim evitar o gol mil dele. Como goleiro do Vasco, iria fazer meu melhor. Folha - Houve outras oportunidades para Pelé marcar? Andrada - Sim. Mas nossa equipe estava fazendo de tudo para evitar o gol. Nosso time estava muito concentrado, marcando firme. O Renê (volante do Vasco que fez o pênalti), vendo que Pelé iria marcar, chegou a fazer um gol contra. Folha - Durante a cobrança do pênalti, aos 34min do segundo tempo, o que você sentiu? Andrada - Como profissional, não queria sofrer o gol. Era minha obrigação defender. Pelé correu para a bola e deu uma paradinha antes de bater. Eu pulei bem e cheguei a tocar na bola. Foi a virada do Santos (o jogo terminou 2 a 1). Folha - Você socou o chão depois do pênalti. Andrada - Fiquei com muita raiva, foi uma desilusão no momento. Depois da partida, percebi que Pelé merecia tudo aquilo e que tomar aquele gol não foi tão ruim. Folha - Então, depois do acontecido, você gostou da idéia? Andrada - Sim. O gol marcou minha carreira. Foi uma honra ter participado desse marco histórico. Folha - A Folha fez uma recontagem dos gols de Pelé e descobriu que o milésimo gol aconteceu quatro dias antes desse gol sofrido por você. Andrada - Isso é muito esquisito. Folha - Um gol marcado por Pelé durante o serviço militar não fora computado... Andrada - Isso me surpreende. Não acredito que me vão tirar até isso. Eu vivi o milésimo gol e ninguém pode tirar isso de mim. Todos os sentimentos daquele dia são parte da minha vida. Folha - O que significa ficar fora da cena do milésimo gol? Andrada - O Pelé merece mais que 2.000, 3.000 gols. Eu estar ali foi só uma circunstância, mas acabou significando muito para mim. O gol do Maracanã é muito concreto e não se deve mexer com fatos como esse. Texto Anterior: Santos usa 5 reservas contra a Ponte Preta Próximo Texto: Argentino temia 'bomba estourar' Índice |
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