São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Viúva de Curtis rompe silêncio

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

A viúva de Ian Curtis, Deborah Curtis, decidiu romper um silêncio de 15 anos com um livro sobre sua vida com o líder do Joy Division.
``Touching From a Distance: Ian Curtis and Joy Division", lançado nesta semana no Reino Unido pela editora Faber & Faber, é a tentativa de Deborah de derrubar parte do mito criado em torno de Curtis.
Em um texto escrito para o jornal ``The Guardian", como preparação para o lançamento do livro, Deborah retrata o egoísmo de Curtis que a transformou em uma dona-de-casa proibida de compartilhar o estrelato alcançado pelo marido.
Segundo ela, o líder do Joy Division matou-se sob um forte sentimento de culpa. Mais do que causado por conflitos existenciais revelados em suas letras, seu suicídio foi fruto de uma incapacidade em perdoar a si mesmo por ter traído sua mulher.
Semanas antes da sua morte, Deborah já não se sentia parte da vida de Curtis nem do mundo do Joy Division. Renegada, proibida de ir aos shows da banda e tendo que cuidar da filha do casal, Natalie, ela queria o divórcio.
Ian Curtis, segundo ela, dedicava mais o seu tempo à belga Annik Honoré, sua amante e presença certa em todos os shows do grupo.
Deborah diz que Curtis já não se importava muito com o Joy Division. ``Ele disse que quando ``Unknown Pleasures" (primeiro álbum) foi lançado, ele tinha atingido suas ambições. Agora não havia nada mais para ele fazer."
O depoimento da viúva de Curtis revela uma certa raiva por ter sido envolvida no seu mundo. Segundo ela, o ciumento vocalista estava sempre com medo que ela se envolvesse com outro homem.
Para Deborah, o fim de Curtis foi consequência de seus próprios atos. ``Ele engenhou seu próprio inferno." Na carta que deixou para sua mulher, pouco antes de se enforcar, Ian Curtis dizia que a amava e odiava sua amante. Mas o texto não a convenceu. Para Deborah, tanto ela como sua filha foram vítimas de uma realidade criada por ele de forma egoísta.

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