São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995 |
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Enzensberger vê a 'face escura' do multiculturalismo
NELSON ASCHER
A conferência proferida pelo poeta e ensaísta alemão Hans Magnus Enzensberger (nascido em 1929) abriu anteontem o evento promovido pelo Banco Nacional de Idéias e organizado por Wally Salomão e Antonio Cícero. O texto contou com suas características habituais: originalidade e precisão. Dando sequência, em primeiro lugar, a idéias desenvolvidas nos ensaios contidos em ``Guerra Civil" (recém-lançado pela Cia. de Letras), Enzensberger tratou do que se poderia chamar de ``face escura" de multiculturalismo, ou seja, o fenômeno que ele denominou ``Guerra Civil Molecular". Os exemplos arrolados foram acontecimentos recentes como os ataques terroristas em Oklahoma e no Japão. A idéia é uma continuação -e também confirmação- de teses que propusera em textos como ``O Âmago Vazio do Terror" -onde identificava o nascimento de uma espécie de ``terrorismo pelo terrorismo", isto é, de uma nova categoria de atentados sem motivo relevante, cuja eventual justificação política seria mera desculpa carente de convicção- e ``Sonhadores do Absoluto", uma história analítica da ``ação direta". Com perspicácia e agudeza, Enzensberger mostrou como os ataques recentes já transcorrem inteiramente despidos de toda causalidade objetiva, socialmente inteligível ou explicável, mesmo que não justificável. Pois seus alvos são aleatórios; suas vítimas potenciais são indiscriminadas e podem, portanto, ser qualquer pessoa; não há em geral causa política que os desencadeie; não é possível achar-lhes na raiz problemas ou ressentimentos econômicos como a exploração, a miséria ou a destituição. O mais notável, segundo ele, é que, em maior ou menor escala, o fenômeno é trans ou multicultural: ocorre em todo o mundo e só pode ser associado muito genérica e superficialmente à multiplicação econômica de excluídos, de pessoas irrelevantes para a economia, estando, porém, longe de se reduzir a isso. Seu contraponto é a capacidade aparentemente inesgotável de cicatrização da normalidade cotidiana que repara ininterruptamente os danos também ininterruptos da ``Guerra Civil Molecular". No geral, as intervenções seguintes e as questões levantadas pela platéia parecem ter assimilado mal a singularidade dessas colocações. Zuenir Ventura tratou de realçar que, no caso brasileiro, a violência e a criminalidade estariam diretamente vinculadas a questões econômicas mais imediatas. Muniz Sodré atribuiu o fenômeno a problemas ligados à identidade cultural e à não necessária validade universal de padrões ``culturais" eurocêntricos. Conferencista: Tzvetan Todorov Expositores: Antônio Risério e Hermano Viana Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema sala 3 (rua Augusta, 1.475) Quando: Hoje, às 20h Quanto: R$ 5 Texto Anterior: Filme mostra versão dos desaparecidos Próximo Texto: Moda e costumes retomam o passado Índice |
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