São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
Próximo Texto | Índice

Grupo quer 'CPI' de desaparecidos

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O MEDH (Movimento Ecumênico pelos Direitos Humanos) solicitou ontem ao Congresso a criação de uma ``comissão da verdade" para que familiares de desaparecidos possam saber que destino tiveram os mortos pelo regime militar, entre 1976 e 1983.
O coordenador do MEDH, Patricio Rice, disse que a idéia é formar uma comissão integrada por deputados e senadores para ``dar uma resposta legítima aos familiares das vítimas, ou seja, saber o que ocorreu".
A proposta foi defendida durante a campanha eleitoral pelo candidato da Frepaso (Frente País Solidário), José Octavio Bordón, derrotado pelo presidente Carlos Menem nas eleições de domingo.
Até agora, nenhum integrante do governo Menem comentou a proposta do MEDH.
O presidente do Centro de Estudos Legais e Sociais, Emilio Mignone, disse à Folha que é preciso também buscar cerca de 500 crianças que, na época da ditadura, foram retiradas de seus pais e entregues a outras famílias.
Até agora, a Associação das Avós da Praça de Maio somente conseguiu localizar menos de 50 destas crianças.
Rice sugere que até mesmo militares que participaram da repressão poderiam dar depoimentos à comissão para colaborar com resgate de como foram foram os presos políticos.
A Associação das Mães da Praça de Maio cita o equivalente a 30 mil desaparecidos.
``O processo vai ser muito longo e por isto acreditamos que a `comissão da verdade' não deva ter um prazo fixo para terminar seu trabalho", observa Rice.
Na prática, ele reconhece que a proposta do MEDH, além da reconstrução da lista de desaparecidos, tem como objetivo derrubar as leis de Ponto Final e Obediências Devida, assinada em 1983 pelo então presidente Alfonsín.
Estas duas leis impedem qualquer ação judicial contra militares que participaram da repressão até o posto de coronel. Baseiam-se no princípio de que estavam recebendo ordem superiores.

Incidente diplomático
O embaixador da França em Buenos Aires, Renaud Vignal, criticou as Forças Armadas argentinas pela promoção do capitão-de-fragata Alfredo Astiz, a ser concedida em dezembro. Astiz foi condenado pela Justiça francesa pelo assassinato das freiras Alice Domon e Léonie Duquet.
As francesas Alice e Léonie passaram na década de 70 pela Esma (Escola de Mecânica da Armada), centro de tortura da Marinha.
"Ser assassino é condição moral para ser promovido na Marinha ?, indagou o embaixador.
Ele criou uma polêmica com o chefe do Estado-Maior da Marinha, almirante Enrique Molina Pico. O almirante considera que Astiz tem "todas as condições morais para ser promovido.
O vice-chanceler Argentina, Fernando Petrella, classificou as declarações do embaixador francês como "inadequadas.
No Chile, a deputada e escritora Isabel Allende afirmou que os militares do país devem seguir o exemplo argentino e confessar crimes cometidos durante o regime militar de Augusto Pinochet. Isabel é filha de Salvador Allende, presidente deposto em 1973.

Próximo Texto: Menem propõe lei de imprensa mais rigorosa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.