São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Caro demais

Esta Folha divulga hoje dados impressionantes acerca do aumento da inadimplência em diversos setores. Esses números se somam a outros sinais indicando, todos, que a política do governo para desacelerar a economia vem dando resultados. Mas há dúvidas quanto à dosagem. A magnitude do arrocho que se espalha pelo país levanta a suspeita de que a freada pode ser sido drástica demais.
Desde o início do ano, o Executivo tem recorrido a sucessivas medidas de restrição ao crédito e à manutenção de taxas de juros assustadoramente elevadas visando a conter o consumo. A economia brasileira de fato vinha crescendo a um ritmo espantoso (9% ao ano no primeiro trimestre), suscitando temores de que pudesse estimular uma alta da inflação, bem como contribuir para a manutenção dos preocupantes déficits comerciais.
Os objetivos do governo são compreensíveis e até acertados, dada a situação da economia brasileira que, por um acúmulo de distorções históricas, sempre se defronta com graves dificuldades quando uma parcela um pouco maior da população tenta participar do mercado de consumo. A sensação -ou o temor- que cresce e se dissemina cada vez mais é de que as medidas contracionistas podem ter sido excessivas e que, se estão atingindo suas metas, o fazem a um preço insuportavelmente doloroso.
A inflação decerto dá mostras de moderação e as expectativas são de que permanecerá assim por algum tempo. O comércio externo parece estar reagindo e esperam-se resultados melhores à frente. Esses efeitos animadores, porém, são o reverso do sufocamento a que está sendo submetida a economia.
Com juros estratosféricos e crédito escasso, os consumidores, sem ar, reduzem suas compras e aqueles que estavam endividados enfrentam graves dificuldades para cumprir suas obrigações -quando conseguem. Uma situação que, num irresistível efeito dominó, vai sucessivamente afetando os diferentes estágios da cadeia produtiva, chegando agora, conforme mostra a reportagem publicada hoje, até a produtores de insumos básicos como plásticos e aço.
Colocadas entre a espada e a parede, entre custos financeiros elevadíssimos e uma minguante entrada de recursos, muitas empresas terão pela frente o grande desafio de apenas sobreviver -e muitas possivelmente fracassarão.
O pior é que a sensação predominante é de que a situação ainda vai piorar mais, e de que o custo da correção de rumo promovida pelo governo será alto. Alto demais.

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