São Paulo, sábado, 20 de maio de 1995
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FHC diz que taxa atual é `escorchante'

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE (PE)

O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou ontem as taxas de juros de ``escorchantes". Segundo ele, o crescimento elevado do consumo levou a equipe econômica do governo a subir as taxas de juros.
O verbo escorchar, segundo o dicionário Aurélio, significa ``tirar a pele de animal ou planta". Pode significar ainda ``tirar, roubar ou cobrar preços exorbitantes".
Ao justificar os juros altos, FHC disse: ``Os que tomam decisões de política econômica são constrangidos por essas circunstâncias (consumo elevado) e também por circunstâncias internacionais (como a crise mexicana de dezembro)."
O presidente afirmou considerar as ``circunstâncias internacionais, graças a Deus, já superadas". Acrescentou que a elevação dos juros foi uma medida emergencial, mas não definiu uma data precisa para que os juros comecem a cair.

Insuportável
Os comentários de FHC foram feitos em resposta ao presidente da Fiepe (Federação das Indústrias de Pernambuco), Armando Monteiro Neto.
``Temos hoje, seguramente, uma das mais altas taxas de juros do mundo. (...) Hoje atingem patamares insuportáveis para a atividade econômica", disse Monteiro Neto.
``Nos últimos 30 dias as taxas reais destinadas ao crédito comercial das empresas ultrapassaram o alarmante nível de 100% ao ano", completou.
As críticas foram feitas durante reunião da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). Monteiro Neto falou em nome dos empresários da região.

Crescimento
FHC disse que o crescimento industrial de 10% nos primeiros quatro meses de 95 e saltos no consumo de até 20% de um mês para outro é que formam ``o pano de fundo sobre o qual operam os que tomam decisões de política econômica".
O presidente disse que essas circunstâncias é que levam a taxas de ``juros escorchantes, às quais nenhum de nós subscreve, como se fosse mecanismo para solucionar crises".
Segundo FHC, o governo é forçado a tomar este tipo de medida porque ``não houve a compreensão necessária na contenção possível do consumo" ou ``porque não houve a compreensão daqueles que especulam contra o Plano Real".
Ou seja, as pessoas passaram a comprar muito com o Plano Real. Para que não falte produto, o governo julga necessário reduzir o consumo. Os juros seriam uma forma de forçar esta redução.
FHC disse que, no momento, a preocupação é ``colocar o carro do consumo adequadamente, sem prejudicar as camadas populares". Momentos antes, Monteiro Neto havia dito que as políticas de juros e de restrição de crédito forçaram uma queda de vendas de até 40%, além de levar a inadimplência.

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