São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Para críticos, agora brancos são vítimas

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O principal argumento dos que se opõem à ação afirmativa é que ela endossa discriminação racial como a que havia antes da promulgação da Lei dos Direitos Civis em 1964. Só que, agora, as vítimas são os brancos.
É comum ouvir líderes conservadores citarem a célebre frase de Martin Luther King Jr., líder pacifista negro atuante nos anos 60, de que as pessoas devem ser julgadas por seu caráter, não pela cor de sua pele.
É uma arma poderosa.
Há milhões de exemplos fortes. Um deles: Sharon Taxman, branca, foi demitida em 1989 pelo Ginásio Estadual de Piscatway, Nova Jersey (Costa Leste), porque a diretoria tinha que eliminar uma das duas vagas de professor de administração.
A colega de Taxman na função era uma negra.
Outro: Janice Camarena, branca, só podia fazer um curso de inglês na Faculdade de San Bernardino, Califórnia (Costa Oeste), no horário das 11h, mas essa classe era exclusiva para alunos negros e ela ficou sem a vaga.
Muitos desses casos estão sendo examinados pela Justiça. Na opinião dos críticos da ação afirmativa, a opinião pública já se decidiu contra, com base na divulgação desses episódios pelos meios de comunicação.
Outro argumento contrário, que apela à esquerda no espectro ideológico, é de que a ação afirmativa só beneficia as elites das duas raças e em nada ajuda a aumentar a oportunidade dos pobres melhorarem de vida.
A maioria dos negros é pobre. Assim, a ação afirmativa também discrimina contra os próprios negros, argumentam os críticos.
O que o governo federal deve fazer, dizem, é diminuir a pobreza com estratégias para melhorar escolas públicas, alimentar melhor e cuidar mais da saúde das crianças da área rural e das áreas urbanas desatendidas.
Muitos dos seus atuais críticos acham que a ação afirmativa foi concebida para ser provisória, não permanente e ela agora deve acabar.
Esses críticos citam como exemplos vários casos de empresários que se valeram de incentivos fiscais para estabelecerem meios de comunicação de massa por serem negros.
Agora, milionários, esses empresários negros continuam a pagar menos impostos do que seus colegas brancos, muitos com faturamento menor que os deles.
(CELS)

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