São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
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Líder de ocupação pensa em abandonar o PT

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Averaldo Menezes de Almeida, 36, presidente do Sindipetro da Baixada Santista, comanda a ocupação da refinaria Presidente Bernardes, da Petrobrás, em Cubatão (SP), que tem 1.447 funcionários.
``Daqui a gente não sai. Agora é uma questão de dignidade", afirma ele, ao lado de 500 petroleiros que ocupam a empresa desde o último dia 6.
Filiado ao PT, Menezes acusa a cúpula do partido de estar transformando o PT ``no PSDB de ontem". Diz estar propenso, inclusive, a deixar o partido.
Desde o início da greve, em 2 de maio, Menezes não vai para casa. ``Durmo em intervalos de meia hora, em locais diferentes."
Poeta nas horas vagas, com salário de R$ 800 como contramestre de calderaria na Petrobrás, ele afirma que a dedicação ao movimento está prejudicando seu relacionamento familiar. ``Minha mulher não é sindicalista. Nossa relação hoje não é das melhores", afirma. A seguir, trechos da entrevista concedida na refinaria.

Agência Folha - O que levou vocês a ocuparem a refinaria?
Menezes - Soubemos que os companheiros estavam recebendo cartas com ameaças de demissão (a direção da refinaria desmentiu as cartas). Isso é sacanagem. Aí eu coloquei o carro do sindicato entre os portões, impedindo que eles fossem fechados. Um vigilante tentou empurrar o portão. Foi o que bastou. Todo mundo entrou e estamos aqui para só sair quando o governo aceitar as reivindicações e readmitir os demitidos.
Agência Folha - Como se organiza uma greve?
Menezes - Primeiro foram feitas pequenas paralisações, para esquentar os motores. Alguns dias antes da greve, nós paramos a refinaria por meia hora e as assembléias se intensificaram. Acho que desde o último dia 2, eu já fiz mais de 300 discursos. Depois de deflagrado o movimento, ele cria dinâmica própria. Exploramos os fatos para manter o pessoal unido.
Agência Folha - O governo diz que aceita as demissões voluntárias. O que irá acontecer? Eles perderão o emprego?
Menezes - Quando o ministro Raimundo Brito diz que aceita as demissões, ou ele é incompetente ou desconhece as coisas. Não existe escola para operador de refinaria. As pessoas aprendem na prática. E ninguém irá ensinar aos novos funcionários o trabalho. O ministro está falando bobagem.
Agência Folha - Como você mantém a moral dos petroleiros, na refinaria há tantos dias?
Menezes - A estratégia é viver criando fatos novos. Outro dia, a superintendência proibiu a permanência de estranhos aqui dentro. Nos reunimos e impedimos a entrada dos funcionários das empreiteiras. Esse tipo de coisa motiva o pessoal, o ego fica nas alturas. Cantamos o hino nacional, fazemos piada, sátiras com políticos e outras brincadeiras.
Agência Folha - Você é filiado a algum partido político?
Menezes - Sou filiado ao PT, mas estou repensando a filiação. A linha do partido fugiu um pouco do que eu acredito ser o correto. O PT está caminhando para a social-democracia, com o Eduardo Jorge e José Genoino (deputados federais do PT). A cúpula do PT está levando o partido para se transformar no PSDB de ontem, para ficar em cima do muro.
Agência Folha - Qual o maior erro do PT hoje?
Menezes - O PT está achando que tem de se moderar para ganhar um lado empresarial. Com isso, está perdendo o povo.
Agência Folha - A que tendência do PT você pertence?
Menezes - Nesse ponto eu sou meio maluco. Sou namorado por diversas tendências, mas acabo votando na proposta que mais me agrada. Sou um independente.
Agência Folha - Você pensa em sair do PT?
Menezes - É difícil dizer isso agora. Estou na dúvida. Fora do PT, não existe muita coisa.

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