São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Você vale o dinheiro que faz'

DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES

`Você vale o dinheiro que faz'
Com ``Morrer Por" (To Die For), exibido fora de competição, Gus Van Sant cruzou a fronteira entre a produção independente que o celebrizou e a Hollywood que agora o abraça. Seu novo filme é uma comédia de humor negro, satírica sobre o arrivismo e o poder da mídia, centrada numa jovem provinciana (Nicole Kidman) que sonha com o estrelado como apresentadora de TV.
Van Sant veio também a Cannes como produtor executivo do polêmico ``Kids" (leia texto à pág. 10), exibido ontem na mostra competitiva. O diretor de ``Drugstore Cowboy" (1989) falou ontem à Folha sobre sua passagem para o cinema industrial americano.

Folha - Como você chegou a ``Morrer Por"?
Gus Van Sant - Propuseram-me o projeto, ao mesmo tempo que ao roteirista Buck Henry. Li o livro e me interessei. Depois de testarmos muitas atrizes, acabamos nos fixando em Nicole Kidman.
Folha - É sua entrada pela porta da frente nos grandes estúdios?
Sant - Digamos que sim. O filme custou só US$ 15 milhões, o que não é muito para um grande estúdio.
Folha - Você tinha outro projeto mais pessoal?
Sant - Sim. Eu estava desenvolvendo um roteiro sobre um matemático. Tive que deixá-lo de lado por uns tempos. Estou retomando-o agora. Espero produzi-lo logo. O custo vai ser baixo, cerca de US$ 1,5 milhão.
Folha - Hollywood durante décadas esteve fechado a cineastas abertamente homossexuais. Você conseguiu agora furar o bloqueio. Você acredita que outros talentosos cineastas americanos gays da área independente, como Gregg Araki e Todd Haynes, terão a mesma chance?
Sant - Não sei se sou um modelo. Acho que não interessa a Gregg ou a Todd fazer filmes para grandes estúdios e comprometer sua independência. Acredito que eles prefiram seguir Jim Jarmusch, que construiu seu próprio ninho para produzir seus filmes. Para eles, eu me vendi (risos).
Prefiro dizer que comprei os estúdios. Mas nada está garantido. Sequer tive o controle total sobre a edição de ``Morrer Por". Respeitaram minhas propostas, mas se tivesse que brigar teria problemas. Em Hollywood, você vale o dinheiro arrecadado no último filme.

Texto Anterior: Scorsese reconta o cinema americano
Próximo Texto: Inglês realiza filme tocante sobre casal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.