São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Anistia denuncia adido militar a FHC

Trecho da carta da Anistia Internacional ao presidente

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu anteontem relatório de seis páginas, obtido pela Folha, apontando com detalhes sessões de tortura que teriam sido praticadas contra o advogado carioca Lúcio Flávio Regueira e contra Vera Sílvia de Araújo Magalhães.
O advogado e a ex-estudante de economia afirmam que foram torturados pelo coronel Armando Avólio Filho, quando tinham, respectivamente, 27 e 24 anos de idade. O coronel acusado desempenha, atualmente, as funções de adido militar na embaixada brasileira no Reino Unido.
Procurado pela Folha, na embaixada, o coronel Armando Avólio Filho não atendeu à ligação. Um assessor seu, que não quis se identificar, disse que somente o Ministério do Exército poderia se manifestar sobre o assunto.
O relatório recebido por Fernando Henrique revela que o advogado Lúcio Flávio Regueira foi preso no dia 21 de abril de 1970 pelo Centro de Operações de Defesa Interna (CODI).
O advogado sustenta, no relatório entregue a Fernando Henrique, que foi torturado entre os dias 21 e 25 de abril, no quartel da Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca (zona norte do Rio de Janeiro).
Ele afirma que os seguintes militares teriam praticado a tortura: ``major Gomes Carneiro, capitão Ziembinski, tenentes Avólio, Timóteo e Costa Lima".
Diz o advogado que a tortura consistia em ``choques elétricos nos olhos, boca, nas partes genitais e no ânus, introdução de um cassetete no ânus, afogamentos, injeção do soro da verdade (mistura química que leva o paciente a falar inconscientemente) e pau-de-arara (madeira amarrada entre as pernas e os braços para imobilizar a vítima).
A então estudante de economia Vera Magalhães foi presa em 6 de março de 1970. Diz no relatório que, como resultado das torturas, ficou paralítica ``por muito tempo".
Vera sustenta que as sessões de tortura às quais foi submetida, a partir de 26 de março de 1970, teriam sido comandadas ``pelo major Gomes Carneiro, pelo capitão ziembisnki e pelos militares Felipe, José Alfredo Poe, Avólio e major Fontenelle". Diz que esses militares a teriam chicoteado nas partes genitais.
O documento com esses relatos foi enviado ao presidente Fernando Henrique pela organização de defesa de direitos humanos Anistia Internacional. Os depoimentos das vítimas constam de documento intitulado ``Relatório sobre Alegações de Tortura no Brasil"', editado pela Anistia em 1972.

Colaborou ROGÉRIO SIMÕES, de Londres

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