São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Governo estuda atendimento a vítima de cobra

DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria de Estado da Saúde vai formar na próxima semana uma comissão para estudar formas de melhorar o atendimento às vítimas de animais peçonhentos -cobra, escorpião, aranha, taturana.
Além de Moisés Goldbaum, coordenador da CIP (Coordenadoria de Institutos de Pesquisa), órgão da secretaria, participarão da comissão representantes do Instituto Butantan, da Faculdade de Medicina da USP, da Universidade Federal de São Paulo (ex-Escola Paulista de Medicina) e diretores de hospitais.
A decisão de formar a comissão foi tomada por Goldbaum, 51, após recente polêmica sobre as atividades do Hospital Vital Brazil, ligado ao Butantan e principal referência no tratamento de vítimas de animais peçonhentos no Brasil.
No mês passado, o diretor do Butantan, Isaias Raw, anunciou que pretendia mudar a forma de funcionamento do Vital Brazil.
O hospital passaria a se voltar basicamente para a pesquisa, que é uma de suas atribuições, segundo decreto estadual.
O atendimento de pacientes picados por cobras -que causam a maioria das mortes de vítimas de peçonhentos- seria feito também pelo Hospital Emílio Ribas.
Os médicos do Vital Brazil se concentrariam em pesquisa e treinamento de outros médicos. O hospital seria mantido como referência sobre animais peçonhentos.
Temendo que isso levasse ao fechamento do hospital, funcionários do Vital Brazil organizaram um abaixo-assinado e fizeram um protesto no dia 5 de maio contra a decisão do diretor do Butantan.
Em comunicado ao diretor do hospital, João Luiz Costa Cardoso, Raw informou então que o Emílio Ribas seria habilitado a atender todos os casos de vítimas de animais peçonhentos.
Ao Vital Brazil restaria, segundo o comunicado, atender apenas vítimas de artrópodes (aranhas e escorpiões) que chegassem ao hospital.
Os casos de urgência envolvendo vítimas de picadas de cobras venenosas que chegassem ao Vital Brazil deveriam ser encaminhados ao Hospital Universitário, da USP, a partir de 15 de agosto próximo.
Procurado pela Folha, o diretor do Butantan não quis dar entrevista. Afirmou que não pode concordar que ``pacientes graves sejam atendidos em um galpão".
Raw se referia às condições limitadas de atendimento do Vital Brazil. O hospital não dispõe, por exemplo, de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Os casos mais graves são encaminhados ao Hospital Universitário da USP.
Cardoso, diretor do Vital Brazil, está proibido pela direção do Butantan de dar entrevistas. Segundo Goldbaum, da CIP, ``o fechamento do Vital Brasil está totalmente descartado".
O coordenador da CIP afirmou que há três pontos importantes nas atividades do Vital Brazil que precisam ser melhorados: a pesquisa, o atendimento ambulatorial e a unidade de internação hospitalar.
Goldbaum disse que o hospital não tem condições de atender pacientes graves por falta de infra-estrutura. ``Não queremos expor os pacientes a um risco maior do que o próprio acidente", disse.
Para os funcionários, com a infra-estrutura atual o Vital Brazil tem condições de prestar atendimento adequado em 90% dos casos que necessitam de internação.
Segundo o coordenador da CIP, até agora nenhuma decisão foi tomada em relação ao atendimento. ``O objetivo da comissão é encontrar a melhor maneira de atender os pacientes", disse Goldbaum.
O Estado de São Paulo tem 239 municípios com hospitais que atendem vítimas de peçonhentos, 11 deles na Grande São Paulo.

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