São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Mineradora "cuida" da saúde de prostitutas no PA

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO TROMBETAS

As 45 mulheres das boates de Vila Paraíso, em Oriximiná -no norte do Pará-, estão entre as prostitutas mais bem cuidadas do país -pelo menos do ponto de vista médico. A cada dois meses, uma equipe de ginecologista, pediatra, enfermeira e assistente social visita as casas.
Um consultório de ginecologia é improvisado nas boates montadas sobre palafitas às margens do rio Trombetas. As mulheres são examinadas e passam por uma bateria de testes.
A zona tem o patrocínio não-oficial da Mineração Rio do Norte, um grupo de empresas nacionais e estrangeiras que explora a bauxita, matéria prima do aluminio.
Seis mil pessoas moram em Porto Trombetas, uma cidade fechada que a mineradora construiu para abrigar seus funcionários. A Vila Paraíso -ou brega, como é conhecida- fica a 15 minutos de barco de Trombetas.
Os cuidados médicos com a zona são bancados pela mineradora. O objetivo é ``proteger" especialmente os cerca de mil peões e funcionários solteiros da mineradora.
Eles formam a principal clientela do brega, ao lado dos marinheiros que aportam ali para levar a bauxita. Pelo menos dois grandes cargueiros, com mais de 30 tripulantes vindo do mundo todo, chegam a Trombetas a cada semana.
Três casos de Aids foram detectados na cidade, todos ``importados" por funcionários de empresas que trabalham para a mineradora. ``Mas nenhum caso foi registrado até agora entre as meninas do brega", diz a enfermeira Jacirema Santos, que coordena o trabalho de prevenção em Porto Trombetas.
Na região do cais de Santos -em São Paulo- mais de 20% das prostitutas estão com o vírus da Aids. No brega, cerca de 15% das mulheres estão com sífilis e gonorréia, número quatro vezes menor que o registrado em Santos.
Jacirema diz que o serviço de saúde tem insistido no uso da camisinha. As moças também garantem que só fazem programas com preservativo, principalmente com os marinheiros. As próprias boates vendem camisinhas. Mas os cuidados terminam quando elas encontram um xodó, um cliente com quem passam a namorar.
Por conta dos xodós, 10% das moças estão grávidas. O que significa que a Aids ainda não existe em Vila Paraíso simplesmente porque o vírus não chegou.
``Não uso camisinha com meu nego", diz Glaucimar Pereira da Silva, 18, ao lado da filha Elcimara, de três anos. Glaucimar está grávida de quatro meses.
Mery Pereira, 17, está ``de dois meses". Tem apenas uma vaga idéia de quem possa ser o pai.``Não decidi ainda o que fazer", diz.
Vila Paraíso tem tantas crianças que até uma escola municipal foi construída ali. Muitas delas brincam pelo salão enquanto suas mães recebem os clientes.

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