São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Negociação estranha

LUIZ CAVERSAN

Não há como deixar de concluir que as lideranças dos petroleiros em greve estão forçando a barra para que o movimento chegue ao fim sem mais demora, sem mais prejuízos à categoria e, principalmente, à população.
Forçam no sentido de que está se falando em negociação com a Petrobrás quando o máximo que está ocorrendo são conversas sobre como a estatal vai aplicar as punições estipuladas e, quando muito, sobre a possibilidade de se anteciparem alguns direitos certos (como férias) para amenizar o rombo no orçamento dos trabalhadores.
Há, portanto, um vácuo entre as lideranças do movimento e as bases, que ainda mantêm a produção de combustíveis paralisada.
Informais ou não, o certo é que as conversas mantidas com a Petrobrás apontam apenas para: revisão de demissões, parcelamento do desconto dos dias parados, pagamento em dinheiro de uma parcela das férias (artifício, aliás, garantido por lei a qualquer trabalhador) e antecipação do dia do próximo pagamento (do dia 10 para depois de amanhã).
Ou seja, estuda-se como tornar o prejuízo da greve digerível para os petroleiros, de maneira que eles voltem ao trabalho.
Na busca dessa solução, tenta-se de tudo. A novidade mais recente é a tal ``saída casada", que nada mais é que a volta ao trabalho enquanto se negociam justamente esses pontos relacionados acima.
O único e crucial problema é que o grosso dos trabalhadores parados insiste na pauta de reivindicações, que redundaria em aumento salarial; ou seja, insiste nos termos do acordo que foi esboçado no governo Itamar.
Muito longe disso, a conversa entre Petrobrás e grevistas, através da liderança nacional dos trabalhadores, não acena nem sequer com o não-desconto dos dias parados, quanto mais com aumento. A discussão sobre reajustes, diz a empresa, irredutível, só na data-base da categoria.
Diferentemente de ocasiões anteriores, vê-se agora uma greve em que as lideranças buscam todas as maneiras de pôr fim à paralisação enquanto nas refinarias a palavra de ordem é a continuidade do movimento.
O impasse que surge é este: será que os petroleiros vão aceitar uma negociação em que a única coisa negociável é a punição para sua falta, nada mais?

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