São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Agiotas e a poupança

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pedro Malan fechou o seu pronunciamento, em cadeia de televisão, com uma desajeitada apoteose populista.
Disse que é preciso lutar contra aumentos que ``podem levar a inflação para a lua". Disse que é preciso manter a estabilidade por ``seis meses, um ano, cinco anos!"
A exaltação abriu caminho para o ataque aos ``agiotas, acostumados a ganhar dinheiro às custas do suor de quem dá duro para receber honestamente o seu salário".
Estranho, o governo explode os juros e a culpa é dos agiotas. Mas os agiotas não foram só desculpa, no discurso.
Eles surgiram para sublinhar que, ``em lugar de comprar no crediário e se endividar, você deve tirar proveito das taxas de juros e aplicar o seu dinheiro na caderneta de poupança".
O ministro tem consciência, claro, de que não são apenas as empresas que estão quebrando. Daí falar em endividamento, em agiotas, hoje personagens do cotidiano de todos.
Mas tão do cotidiano, tão presentes, que agora é difícil enxergar viabilidade no apelo em favor da poupança.
Vicentinho, presidente da CUT, analisando o discurso na Gazeta, reagiu instintivamente, ``gente, ou eu estou num outro mundo, ou essa conversa está meio mal contada".
E sugeriu, ``coloque-se no lugar de quem está passando necessidade, nem pode pagar aluguel, e o governo fala, `olha, gaste menos, faça uma poupança, você está crescendo. Cuidado, se controla"'.
O povão
Vicentinho lembra Lula, o primeiro Lula. É instintivo em tudo. Ontem, meteu-se numa longa discussão em que disse, sério, ao falar da eleição de Fernando Henrique:
- O povão também votou na condenação de Jesus Cristo sem saber.
Depois, em sequência:
- Muita parte deste povo não tem formação suficiente.
- O povo é manipulado.
- O povo reage de acordo com uma encenação que lhe é colocada.
Talvez isso ajude a entender a longa greve dos petroleiros. PT e CUT ainda não aceitaram a eleição. Ou o regime.
O Brasil é aqui
Mais quatro crianças mortas na Bahia, deu o SBT. É para não esquecer que país é este.

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