São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
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Superprodução multimídia leva público `aventureiro' a Jundiaí

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Nesta quinta-feira, quando estrear o espetáculo ``A Grande Viagem de Merlin", o teatro estará, mais uma vez, cedendo lugar a um projeto alternativo, agora sob o nome de ``expedição experimental multimídia".
O espectador, promovido a ``aventureiro", seguirá até Jundiaí, em caravana de caminhão, ônibus e caminhada, com paradas no inferno, no castelo de Tintagel e na floresta de Broceliande.
Superprodução de US$ 1 milhão, ``Merlin" é encenada pela Kompanhia Teatro Multimídia e pelo próprio público, sob pilotagem do arquiteto e diretor teatral Ricardo Karman e do artista plástico e videomaker Otavio Donasci.
Karman foi, por seis anos, assistente do diretor Antunes Filho. Isso não significa que seja exatamente um discípulo. As telas de TV, tão criticadas pelo mestre, estão por toda parte em ``Merlin".
Karman e Donasci montaram, em 1992, ``Viagem ao Centro da Terra", ambientada no também alternativo túnel sob o rio Pinheiros.
Agora, o inferno é o Aterro Sanitário dos Bandeirantes, o castelo é o antigo Teatro Polytheama de Jundiaí, hoje em ruínas, e a floresta é uma olaria à beira de uma lagoa nas redondezas de Jundiaí.
A intenção da expedição, segundo os diretores, é submeter o espectador ao desconhecido, a situações nunca experimentadas.
Antes do início, pode-se optar entre a fita verde ou a vermelha -maior ou menor interatividade. Uma ambulância equipada com unidade de UTI acompanha a caravana durante as mais de cinco horas de duração.
``Cobrimos as duas pontas do teatro: de um lado, a coisa mais ritualística, do mito medieval do mago Merlin, e de outro, a pesquisa pós-moderna", diz Karman.
Características do pós-modernismo, como o fim das utopias, o uso da tecnologia, a fragmentação narrativa e a colagem de imagens, dominam o espetáculo.
A aventura também. O ingresso de R$ 80,00 dá acesso a um carrossel de experiências e sensações.
O espectador perde contato com a realidade num caminhão escuro, entra em caixões de defunto, faz turismo, participa de um baile medieval, desce escadas abismo abaixo, explora de pedalinho um lago pantanoso, come, toma vinho...
A bula tem contra-indicações. Idosos, menores de 16 anos, cardíacos e pessoas com medo de escuro, lugares fechados ou enjôos são convidados a não comparecer.
O espetáculo pode tornar-se inóspito também a solteiros, solitários e casais alternativos. O número de participantes, limitado a 30, deve ser dividido meio a meio entre homens e mulheres, casais de preferência.
A certa altura, mulheres e homens são separados e passam a viver experiências diferenciadas, muitas delas centradas na velha guerra dos sexos. A compreensão total do espetáculo depende de troca posterior de impressões.
``Se a pessoa quiser ter entendimento completo da proposta, que venha de casal ou se aproxime de alguém", diz Karman.
``Queremos que o público se curta, se aproxime. O espetáculo é um convite ao amor", completa.

Espetáculo: A Grande Viagem de Merlin
Direção: Ricardo Karman e Otavio Donasci
Com: Kompanhia Teatro Multimídia de São Paulo
Onde: partida à av. Sumaré, 1.500, tel. 011/864-2156 (São Paulo) e r. Barão de Jundiaí, 182, tel. 011/434-6922 (Jundiaí)
Quando: quarta a sexta, às 20h, e sábado e domingo, às 19h
Quanto: R$ 80,00

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