São Paulo, terça-feira, 6 de junho de 1995
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Comércio administrado

Primeiro vieram os apertos no crédito. Desaquecer a economia ajudaria a reduzir as importações.
Vieram depois medidas para atrair capitais. Uma entrada maior de capitais financiaria o desequilíbrio por algum tempo.
Vários déficits comerciais depois, veio a elevação de alíquotas de importação de carros de 20 para 32%.
Como nem os déficits foram revertidos nem a entrada de capitais se mostrava forte o suficiente, o governo aumentou a alíquota de 32% para 70%. Começaram então as promoções nas importadoras, que vendem pela alíquota antiga.
Na semana passada, mais um capítulo da novela começou a desenhar-se. Agora viriam cotas. Simplesmente estariam proibidas ou limitadas as quantidades de produtos que podem ser importados.
As deficiências do sistema de cotas são bastante conhecidas: controlar quantidades, ou seja, racionar, em geral é sinônimo de dar mais poder para as burocracias alfandegárias e, teoricamente ao menos, pode induzir fortemente a corrupção e o tráfico de influências.
Na prática, o governo está criando um sistema informal de taxas de câmbio múltiplas. Ou seja, o câmbio fica estável porque o governo quer evitar sinais inflacionários, de um lado, e beneficiar os devedores em dólar, a começar por ele mesmo e suas empresas estatais.
Ao mesmo tempo, o ``câmbio" do importador de automóveis, por exemplo, fica mais caro. Combinando tarifas e cotas, além de instrumentos de controle de crédito e de regulamentação, constrói-se o ``comércio administrado".
Entendem-se esses instrumentos como formas temporárias de lidar com desequilíbrios no comércio exterior. Aliás, a teoria mostra que a sua eficiência aumenta principalmente quando são temporários.
Nesse sentido, os efeitos danosos sobre o livre comércio e mesmo a hipótese de submeter o comércio exterior ao burocratismo devem ser evitados ao máximo.
Ou logo estaremos, como ocorria até os anos 80, contidos numa economia fechada cujos respiros são ``sabiamente" controlados nos gabinetes e corredores de Brasília.

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