São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Empresários receitam cortes no governo

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos empresários do país (74%) concordam com o governo que o crescimento do consumo põe em risco o plano de estabilização da economia.
Mas eles discordam do receituário adotado. A maioria entende que deveria ocorrer um corte expressivo das despesas de custeio do próprio governo.
A política de juros altos adotada pelo governo é o último, de um total de nove itens listados pelos empresários como ``remédio" para reduzir o consumo.
Estas são as principais conclusões de uma sondagem conjuntural sobre eventuais medidas necessárias para a redução do consumo.
A sondagem, realizada pelo grupo inglês de consultoria empresarial Price Waterhouse, ouviu, na última semana de maio, 162 das 500 maiores empresas brasileira.
Paulo Michael Vanca, sócio-diretor da Price Waterhouse, disse que o resultado mostra que os empresários acham que o aumento excessivo do consumo pode pôr em risco o controle da inflação.
``A sondagem indica que os empresários têm consciência de que não adianta olhar apenas o interesse individual de cada um de vender mais e sim o conjunto".
Os empresários apontaram nove medidas prioritárias para a redução do consumo. A primeira delas é o corte ``expressivo" das despesas de custeio do governo.
Despesas de custeio são, por exemplo, as realizadas com a contratação de serviços de manutenção e compra de material de limpeza e artigos de papelaria.
``Para os empresários, a gordura está no governo", disse. ``Para eles, o governo pode apertar ainda mais o cinto".
A extinção da indexação formal para os salários é a segunda medida, em ordem de prioridade, sugeridas pelos empresários para reduzir o consumo.
A maioria (73,2%) acha que as medidas têm de ser aplicadas logo. Para 34,1%, a aplicação deve ser ``imediata e radical", e para 39,1%, ``imediata e progressiva".
Embora peçam medidas urgentes, os empresários reconhecem que a aplicação imediata é difícil.
Para 41,1% dos empresários, o corte das despesas de custeio do governo depende da adoção de reformas constitucionais.
Para 39,7%, a aplicação depende de negociações com o Legislativo. Apenas 15,5% acreditam que os cortes possam ser feitos sem condicionantes políticos.
A sondagem mostra que os empresários acreditam que as medidas de maior impacto na redução do consumo são as que requerem mais negociações.
A maioria (52,4%) dos empresários pensa que a extinção da indexação formal para os salários está condicionada à negociação com entidades de classe.
Para Vanca, a indicação do fim da indexação de salários como a segunda medida prioritária para a redução do consumo significa que os empresários vão evitar dar aumentos imediatos de salários após a extinção do IPC-r.
A elevação das taxas de juros é a última medida sugerida para a redução do consumo.
``O consenso é que os juros já estão altos demais, inibindo as iniciativas para aumentar os investimentos na ampliação da capacidade de produção", afirmou.

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