São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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Ex-terrorista estuda transexuais

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O tom trágico de algumas passagens de ``Princesa" não se deve apenas às histórias de Fernando Farias de Albuquerque.
A trajetória de Maurizio Jannelli, o homem que deu forma às palavras do travesti, não é menos carregada de dramas pessoais.
``O tempo, para mim, passa como numa ampulheta sem areia dentro", disse Jannelli à Elisa Byngton, uma brasileira radicada em Roma, que traduziu ``Princesa" do italiano para o português.
Por suas participações em ações armadas que resultaram em mortes, como integrante das Brigadas Vermelhas, Jannelli foi duas vezes condenado à prisão perpétua.
Considerado um ``brigadista irredutível", Jannelli perdeu várias oportunidades de ver sua pena reduzida, como ocorreu com os chamados ``arrependidos".
Na prisão, começou a estudar sociologia. Depois que conheceu Fernanda, passou a se interessar pela questão do transexualismo.
Com a publicação do livro, Jannelli se tornou um especialista no assunto. É chamado para palestras e debates sobre o tema.
A rigor, Fernanda não pode ser considerada um transexual, pois não sofreu operação para mudar de sexo. É um travesti.
Mas, no livro, ela adota essa denominação e pediu a Elisa Byngton que a mantivesse na tradução -inclusive da forma abreviada que os italianos usam a palavra (``trans").
Pelo menos 500 travestis brasileiros vivem hoje ilegalmente na Itália, entre Roma, Milão e cidades litorâneas, como Rimini.
Eles costumam entrar de avião por Portugal e seguir de trem até o norte da Itália. Outra porta de entrada é a Suíça.
Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde italiano em 1991, entre 92 travestis brasileiros, constatou que 66% deles eram portadores do vírus da Aids.
A pesquisa foi feita em Roma num centro de referência para viciados em heroína.
A pesquisa também descobriu que eles têm idade média de 28 anos e um número médio de parceiros, por ano, de 1.500.
(MSy)

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