São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995 |
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Americano expõe todas as faces de Malraux
JOSÉ GERALDO COUTO
Com o singelo título ``Malraux", a minuciosa obra, publicada no ano passado na Inglaterra e na França, será lançada no Brasil no final de junho pela editora Scritta. Cate, que levou três anos na pesquisa e redação do livro, falou à Folha por telefone de seu apartamento em Paris, cidade onde nasceu e para onde voltou em 1958. Folha - Em seu livro, o sr. não parece tão interessado no escritor quanto no homem Malraux. Curtis Cate - Se você olha para a vida de Malraux, vê que ele começa se interessando simultaneamente por arte e literatura, se torna um editor, crítico de arte, viaja à China e ao Camboja, é preso como ladrão de relíquias, vira um jornalista engajado etc. Ele faz umas seis coisas diferentes antes de escrever sua primeira obra de ficção, ``Os Conquistadores"(1928). Ou seja, em Malraux a ação sempre precede a literatura. Folha - Foi muito difícil para o sr. escapar à sedução de seu personagem e conseguir um certo distanciamento crítico? Cate - Quando você diz que consegui escapar do magnetismo de Malraux eu concluo que meu livro não soa como uma hagiografia (biografia de santo), que é a pior forma de biografia. No capítulo 37, sobre arte, eu me vi tendo que escolher entre Ernst Gombrich -que era um grande historiador da arte- e Malraux, e eu escolhi Gombrich. Tive problemas aqui em Paris por causa disso. Um crítico literário, André Bancour, que era editor do ``Figaro Litteraire" e considerava Malraux sua propriedade pessoal, me atacou porque, para ele, o grande Malraux é o que escreve sobre arte. Discordo totalmente. Folha - Como o sr. vê a metamorfose de Malraux, de revolucionário em braço direito do conservador Charles De Gaulle? Cate - Malraux, antes de tudo, era um patriota. Durante a Ocupação nazista, ele queria se juntar a De Gaulle, mas na época não deu certo. Depois, ele foi introduzido no círculo dos amigos de De Gaulle e se tornou um gaullista. Não considero isso uma traição, porque nos meses finais da Ocupação havia uma chance real de os comunistas tomarem o poder. Levado, por suas simpatias gaullistas, a ver as coisas sob uma luz diferente, Malraux se tornou um nacionalista, um anticomunista -graças a Deus, porque Deus sabe o que aconteceria com este país se os comunistas tivessem chegado ao poder em 1945 ou 46. Folha - Como Malraux veria hoje a unificação européia? Cate - Para ele a maior riqueza da Europa era a diversidade -e isso é uma coisa que os burocratas em Bruxelas tendem a esquecer. Acho que Malraux não seria propriamente contra o ideal europeu (pois, diferentemente de De Gaulle, ele não era antibritânico), mas seria contra qualquer tentativa de suprimir a diversidade Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch Próximo Texto: Escritor fez de tudo na vida Índice |
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