São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Piloto quer voltar a sobrevoar a Bósnia

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Enquanto na Itália o capitão Scott O'Grady manifestava seu desejo de voltar a voar em missões sobre a Bósnia, em Washington líderes da oposição acusavam o governo pela queda de seu avião em 2 de junho.
O'Grady foi recebido com festa na base aérea de Aviano, ao norte de Veneza, sede do 555º Esquadrão da Força Aérea dos EUA.
Ele chorou e fez discurso de cinco minutos para agradecer a Deus, aos colegas e ao governo.
Mas, no Congresso norte-americano, muitos acham que O'Grady só teve sua vida colocada em risco por falta de previdência do comando militar do país.
Segundo eles, O'Grady não poderia estar voando em seu F-16 acompanhado apenas de um colega em aparelho idêntico e sem a proteção de outros aviões capazes de detectar e destruir mísseis.
O general John Shalikashvili, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, reconheceu que os serviços de inteligência da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) cometeram um erro.
Segundo ele, a Otan achava improvável que mísseis pudessem ser lançados contra aviões de observação. Depois do caso O'Grady, essa orientação mudou, e todos os vôos são escoltados.
Parlamentares da oposição acham pouco e querem que a Otan bombardeie as bases de mísseis dos sérvios na Bósnia. O secretário da Defesa, William Perry, disse que isso é difícil.
A razão é o desejo da maioria dos países-membros da Otan de não ampliar o conflito na ex-Iugoslávia. ``Ou convencemos nossos aliados na Otan ou nos recusamos a fazer vôos considerados perigosos", disse Perry.
Até agora, dois aviões da Otan foram derrubados sobre a Bósnia: o de O'Grady e um do Reino Unido, meses atrás. Cerca de 69 mil vôos de observação foram feitos pela Otan sobre a Bósnia.
Calcula-se que os sérvios na Bósnia tenham cerca de cem mísseis como o que derrubou o avião de O'Grady, do tipo SA-6, de fabricação russa, concebidos na década de 1960.
Para os líderes da oposição, o governo dos EUA está cometendo na Bósnia o mesmo erro que cometeu na Somália, ao deixar que organizações internacionais assumam o comando de operações militares do país.
Scott O'Grady, 29, vai passar ``algumas semanas" de folga nos EUA antes de ter atendido seu desejo de retornar à ação na Bósnia.
Vai ser recebido pelo presidente Clinton na Casa Branca e terá recepção de herói em Spokane, Washington (Costa Oeste do país), onde foi criado. Ele passou seis dias num bosque na Bósnia. Comeu insetos e grama e bebeu água de chuva para sobreviver.

Texto Anterior: Croácia ameaça reiniciar guerra com sérvios
Próximo Texto: Clinton pretende manter embargo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.