São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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Tequila, tango e samba

A Argentina dominou a inflação, ajustou a economia e reelegeu seu presidente. Tudo levaria a crer que o risco político cairia no país.
O xadrez político, entretanto, contraria esse cenário mais simples. Pois, se é verdade que Menem reelegeu-se, uma verdade crucial é que mal passou a eleição e a disputa sucessória está aberta.
E o candidato mais evidente, ainda que nada consensual, é ninguém menos que o ministro cujo nome empresta credibilidade à estabilização argentina: Cavallo.
Cavallo tem sido alvo de ataques de figuras que direta ou indiretamente já se colocam como postulantes evidentes à Presidência, como o secretário geral da Presidência da República, Eduardo Bauzá, ou o presidente do Senado, Eduardo Menem, ``primeiro-irmão".
Como se não bastasse, o programa econômico passa por momento dificílimo. Um dos efeitos da crise mexicana foi provocar uma fuga de capitais da Argentina. Mas é da própria natureza do Plano Cavallo que a menos reservas internacionais correspondam menores crédito e liquidez internos. Assim, a economia está mergulhando numa recessão que, por sua vez, impede o cumprimento das metas fiscais.
Sem cumprir as metas fiscais, o Plano Cavallo passa a ser visto com maior ceticismo pelos investidores. Em consequência, tiram seu dinheiro da Argentina, gerando novo aperto de crédito e fragilizando instituições financeiras e empresas.
Mais recessão. Menos arrecadação. O círculo vicioso se aprofunda numa vertigem de fazer coro aos mais dramáticos tangos de Gardel.
Fala-se, cada vez mais, no ``efeito tango" depois do ``efeito tequila".
Trata-se de problemas, todos, relacionados ao modelo de ``âncora" ou valorização cambial. Para que o modelo funcione quando escasseiam recursos externos é preciso arrochar imediata e profundamente as economias. Ou, como no México, aceitar uma megadesvalorização cambial involuntária.
Tequila ou tango, os problemas da América Latina soam cada vez mais como samba de uma nota só.

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