São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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Ruth pode ter 3,5 mi de toneladas de grãos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados governistas e da oposição se uniram e aprovaram projeto que autoriza o governo a distribuir, gratuitamente, por meio de programas assistenciais, os alimentos do estoque regulador da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Se o projeto for aprovado também no Senado, a primeira-dama Ruth Cardoso, que preside o Conselho Consultivo do programa Comunidade Solidária, pode ter, à sua disposição, até 3,5 milhões de toneladas de grãos para distribuir a pessoas carentes.
Esse estoque corresponde a milho, arroz e feijão, que estão armazenados e servem para o governo regular os preços, leiloando os produtos em caso de desabastecimento.
Estoques
Pelo projeto aprovado ontem, a Conab colocará seus estoques à disposição do governo, que se encarregará, por meio do programa Comunidade Solidária, de fazer convênios com as prefeituras para fazer a distribuição.
``Isso pode se transformar em um grande projeto eleitoral", disse a deputada Marta Suplicy (PT-SP). Ela é autora do projeto original, autorizando a distribuição de alimentos da Conab.
Seu projeto propunha a possibilidade de o governo distribuir apenas os alimentos prestes a se deteriorar.
O projeto do governo, que alterou a idéia inicial da deputada petista, fala apenas em ``preferência" aos produtos ``com maior risco de perda de qualidade".
A classificação sobre o padrão de qualidade é competência da Conab, uma empresa do governo.
Distribuição imediata
Segundo a Conab, há 90 mil toneladas de grãos em condição de distribuição imediata. É a parcela do estoque que corre risco de deterioração, se não for consumido imediatamente.
O projeto passou com rapidez incomum na Câmara. A mensagem do Executivo foi enviada há apenas duas semanas e incluía pedido de votação em regime de urgência.
Agora, o projeto vai para o Senado, também com pedido de urgência.
Marta Suplicy teme que o governo use o estoque regulador da Conab, por exemplo, para definir uma eleição.
Durante uma campanha, o governo terá respaldo legal para fazer uma grande campanha de distribuição de comida, se quiser.
``Eles agora poderão pegar esses estoques a qualquer momento", afirma Marta.
Na prática, a situação não é tão simples. O estoque regulador é um forte instrumento para segurar os índices inflacionários.
No caso de algum produto estar sofrendo uma alta especulativa de preço, o governo põe no mercado o estoque para baixar o preço.
A quantidade total de alimentos estocados nos armazéns da Conab chega a 11,5 milhões de toneladas. Oito milhões delas pertencem ao Banco do Brasil.
O estoque do banco corresponde ao produto que o produtor entrega para garantir um empréstimo. Quando a dívida não é paga, o produto passa para o governo.
As 3,5 milhões de toneladas disponíveis constituem a parcela que já pertence ao governo. Corresponde a 0,4% da produção anual brasileira de grãos.

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