São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995 |
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Argentina acusa Brasil de violar acordo do Mercosul
SÔNIA MOSSRI
Menem reclamou ontem que, há três dias, em conversa pelo telefone, o presidente Fernando Henrique Cardoso lhe disse que ficasse tranquilo, porque o Brasil iria manter a Argentina como exceção ao regime de cotas. ``Agora, nós ficamos sabendo que há uma medida provisória assinada pelo presidente do Brasil que não é compatível com a realidade. Além disto, eu me permiti anunciar que seriam respeitados os convênios assinados e nos encontramos nesta situação", observou. Segundo a ministra Dorothéa Werneck, a MP que impôs limite de cerca de 100 mil carros para o Brasil importar de ontem até o final do ano inclui os países do Mercosul. O governo brasileiro quer negociar um regime automotivo específico para o Mercosul. Na primeira crise entre Menem e FHC desde a criação da união aduaneira em janeiro deste ano, o presidente argentino ameaça não comparecer à reunião de cúpula do Mercosul, de 18 a 20 de junho, em São Paulo. ``Caso se mantenha esta postura, se não vamos respeitar o que assinamos com as mãos e o apagamos com os cotovelos, acho que não é conveniente que eu viaje ao Brasil". O ministro da Economia, Domingo Cavallo, classificou a medida provisória como ``uma contradição". Ele disse que o texto da MP sobre importação de veículos pelo Brasil ``não coincide com o que disse o presidente Cardoso". O ministro afirma que FHC havia assegurado que o Mercosul ficaria de fora da medida. Cavallo afirmou que ``não faz sentido ir ao Brasil e propagar o Mercosul para a União Européia" quando há dúvidas sobre a manutenção dos convênios do Mercosul -união aduaneira entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Segundo a Folha apurou junto ao Ministério das Relações Exteriores da Argentina e junto à assessoria de Cavallo, o governo Menem estava seguro de que o texto da MP deixaria claro que a Argentina ficaria fora de qualquer cota ou restrição das importações. A diplomacia argentina e a equipe de Cavallo comentavam irritados ontem que o Brasil, como maior sócio do Mercosul, está usando o Mercado Comum para satisfazer suas necessidades imediatas de política econômica. O ministro do Trabalho, José Caro Figueroa, avalia que eventuais limitações nas exportações para o Brasil ``vão aumentar o desemprego no setor". Na próxima segunda-feira, Cavallo se reúne em São Paulo com o ministro do Planejamento, José Serra, e com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, para buscar uma solução de consenso com relação ao setor automobilístico. O novo regime deve implicar algum tipo de limitação para a entrada de veículos argentinos. Não se sabe quando viria esta limitação. O embaixador do Brasil em Buenos Aires, Marcos Azambuja, manteve contato permanente ontem com Cavallo e enviou ao ministro cópia do briefing do porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, em que o governo brasileiro afirma que a questão ainda será objeto de entendimentos. Vendas A Argentina precisa exportar automóveis, porque o setor está em recessão. De acordo com a Adefa (Associação das Fábricas de Veículos Automotores), as vendas no mercado interno despencaram 40% neste ano. A estimativa da Adefa é que a produção de 95 será 30% inferior a 94. Isto significa que serão produzidos 150 mil veículos a menos. O presidente da Adefa, Horacio Losofiz, disse ontem que as novas regras implicariam uma redução de 76% das exportações argentinas para o Brasil até o final do ano. ``De acordo com a norma, somente poderemos exportar 12 mil unidades, quando já está programada a colocação de 50 mil." LEIA MAIS sobre as cotas na página 1-5 Texto Anterior: Empréstimo com juros Próximo Texto: Dorothéa admite que haverá compensações Índice |
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