São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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Medo de trabalho

EDER JOFRE
A moralização do poder público vem sendo hoje pauta de discussão obrigatória em qualquer canto do país.
A sociedade brasileira tem demonstrado, desde o escândalo PC Farias, que não aceita mais maracutaias de seus representantes legitimamente eleitos.
A Câmara Municipal de São Paulo - a maior do país em termos de representatividade - parece que ainda não entendeu o recado de seus eleitores. Pelo menos é o que revela grande maioria de seus membros.
Há mais de um mês, apresentei projeto de lei ampliando as sessões do Legislativo municipal para todos os dias úteis da semana -como para qualquer trabalhador- e venho tentando, sem sucesso, o número mínimo regimental de assinaturas. Sem isto, o início da discussão da própria matéria e a sua consequente tramitação ficam prejudicadas.
Note-se que tal procedimento ao qual me refiro se dá única e exclusivamente para iniciar o processo legislativo, sem o compromisso de voto favorável ou contrário dos vereadores. Até agora, apenas a bancada do PSDB e mais quatro vereadores de outros partidos assinaram a propositura.
Se o conjunto dos vereadores é contra o projeto, por que não defende suas posições democraticamente em plenário e no momento oportuno? Qual o temor em assumir publicamente, como tenho ouvido nos bastidores, que apenas três dias de trabalho de sessões legislativas por semana -por apenas meio período, aliás- são suficientes para votar todos os projetos em pauta? Não seria incoerência a manutenção deste privilégio numa metrópole conhecida como a capital nacional do trabalho? Será que as chamadas ``bases eleitorais" destes políticos concordariam com este tipo de prática ou quem sabe estão aguardando a votação de algum projeto importante para sua região?
É inadmissível a manutenção deste privilégio as custas do bolso do contribuinte.
A grande maioria dos vereadores paulistanos não tem coragem de revelar suas posições. Querem manter esta vergonhosa mordomia às vésperas de um ano eleitoral que se aproxima.
Existem centenas de projetos em condições de pauta aguardando deliberação final do plenário, sem contar outros em tramitação, de uma metrópole que não dorme e que acumula milhares de problemas que carecem de solução na área da habitação, saúde, educação, transporte público, entre outros.
A grande massa de trabalhadores de todo o país não possui os mesmos privilégios. Muito pelo contrário. Trabalham em média oito horas diárias e muitos inclusive aos sábados. Vivemos um momento de crise econômica com um número assustador de desempregados, que só na grande São Paulo ultrapassa a casa de um milhão de pessoas.
A colaboração da sociedade vem sendo exigida a todo instante. O exemplo da classe política deve, no mínimo, ser compatível.

EDER JOFRE, 59, bicampeão mundial de boxe, é vereador pelo PSDB em São Paulo. Foi presidente da Comissão de Atividade Econômica e vice-presidente da Câmara Municipal de São Paulo (1993).

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