São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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Em campo de olho gordo um cego é Ray

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o velho Lobo da bola Zagallo economizou nos paulistas e tirou um a um. Mas o um de uns é maior, apesar de ser pequeno, do que o um dos outros, caso do Juninho.
Viva Pelé do pé preto, viva Zagallo da cabeça branca. O Brasil vai à sou louco por ti Copa América e não altera tanto as finais do Paulista. Menos para o São Paulo, que perde o pequeno grande homem.
Mas que não se desdenhe a Copa América: o Mercosul do fut é e será.
Enquanto o grande ar-Butre, aquele que quase degolou o Brasil em 86, diz hoje adeus às touradas do Real Madrid, contra o império romano, a nova geração da Espanha avisou que vai à Eurocopa.
Estará nos domínios de sua majestade em 96, ao lado dos donos da casa, do bacalhau norueguês e dos atletas de Hristo Stoichkov, a Bulgária que se firma na nova ordem mundial do futebol que virá.
Espanha, Noruega (com as suas táticas -ainda?- ousadas), Bulgária e a esquadra inglesa que naufragou nas Malvinas brasileiras, mas é dona da casa: até agora, promessas de luz para Eurocopa-96.
Até agora, pintou um repeteco da Copa dos EUA, onde a Espanha, na fase final, ameaçou dar uma de cão andaluz por cima dos italianos, querendo recuperar a velha casa napolitana perdida;
A Bulgária, que destruiu o sonho de uma Alemanha dominadora com a queda do muro de Berlim, despachando a armada germânica dos EUA, que agora voltou a humilhar os alemães;
E os inventores do 3-5-2 da Noruega, que o Zagallo (wow!) e eu preferimos no 3-2-5, que andaram felizes há algum tempo, mas encontram-se, agora, na fase do ser ou não ser eis a questão.
E eu tô de olho na Copa América e na Copa Europa porque acho que a canoa está virando para a nossa terceira margem do rio do futebol, aquela que acredita na tática, no físico e em mais um pouco.
Porque quem é cego enxerga muito, como estaria o rei Charles cantando ``eu estou olhando para você" (existe ou é mera impressão do Caetano Veloso, já que não achamos em lugar nenhum?).
E eu já disse aqui neste cantinho de gol maior e de sol de placa que o rei Charles só não foi Ray Robinson porque havia um outro Mr. Robinson, o Sugar, que era rei do ringue e roubava o cartaz.
Também porque enquanto os burgomestres sem maestria e os burrocratas não conseguem público para o futebol, 170 mil vão ver o rei Charles no Ibira em um lance de clarividência de operadores cultural contra o obscurantismo no futebol.
Ray Charles mostra que em campo de olhos gordos quem é cego é mesmo rei.
(Memorando 1: ``Ray Charles: Blues + Jazz", lançado lá fora no ano passado, CD duplo da Rhino/Atlantic, tem a voz e o piano dos anos de estréia do rei no escrete do vastinho mundinho soul.
Memorando 2: a versão ``disco de ouro" (cara pra c...) do encontro de 61 entre o rei e Betty Carter, que vem com faixas-bônus, incluindo ``I Never See Maggie Alone" (nós sabemos por quê).
Memorando 3: existe delícia maior do que esta dupla atacando na pequena ária de ``Baby, It's Cold Outside"? O frio está chegando. Mas a bola está quente.
Prepare o coração de bola de neve.

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