São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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Meio artístico critica a 46ª edição do evento

DANIEL PIZA
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Se depender do meio artístico, a gestão do francês Jean Clair da 46ª Bienal de Veneza -que fica em cartaz até 15 de outubro- será lembrada como um parêntese conservador no período de novidades estéticas iniciado em 1980, com a criação do ``Aperto".
A extinção da mostra de arte jovem, criada há 15 anos pelo italiano Achille Bonito Oliva, pegou muito mal entre curadores, críticos e marchands ouvidos pela Folha.
O influente Kirk Varnedoe, diretor da seção de pintura moderna do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), por exemplo, achou o fim do ``Aperto" um ``grave equívoco".
``Espero que o `Aperto' volte em 1997, porque era ele que dava vida à Bienal de Veneza", diz. ``Sem ele, o evento se torna convencional, tímido."
Alessandra Mamm, crítica da revista italiana ``L'Espresso", também considerou o evento fraco. ``Nas representações nacionais há muito pouca novidade", diz.
``O melhor pavilhão sem dúvida é o americano. O trabalho de Bill Viola (uma vídeo-instalação, `Segredos Enterrados') é o mais consistente desta Bienal."
Com Mamm concordam 13% dos convidados que foram à Bienal nos três primeiros dias, segundo pesquisa da revista ``Arpel" a que a Folha teve acesso. A pesquisa, entretanto, aponta o pavilhão japonês como preferido desse público, com 18% dos votos.
Mas Viola foi o eleito pela maioria das quase 500 pessoas entrevistadas pela revista para receber o Leão de Ouro concedido ao melhor artista. O italiano Luigi Ontani e o francês César ficaram em segundo e terceiro lugar.
Já o pavilhão egípcio, que ganhou o prêmio de melhor representação nacional, nem sequer é citado (assim como o brasileiro). A pesquisa também não aponta para o Leão de Ouro nem R.B. Kitaj nem Gary Hill, ganhadores nas categorias de pintura e escultura.
Na verdade, Kitaj e Hill participam da mostra ``Identidade e Alteridade", uma história dos últimos cem anos de arte que é a justificativa de Clair para ter cancelado o ``Aperto" nesta edição.
Clair achou melhor concentrar esforços numa reinterpretação da arte deste século em vez de numa mostra jovem cujo modelo, segundo ele, precisava ser revisto.
Quem concorda com Clair é Robert Hughes, o mais conhecido crítico de arte americano, da revista ``Time", que falou à Folha.
Para Hughes, o ``Aperto" tem mesmo de ser remodelado, porque funciona como a ``ação afirmativa" nos EUA -uma lei que estabelece que determinada parcela mínima de vagas em empregos e escolas deve ser reservada a negros, mulheres e minorias.
``No fim, você isola essas pessoas e lhes dá um valor que nada tem a ver com seu mérito real."
O ``Aperto" dominava a atenção da mídia e do mercado, ambos sedentos por novidades constantes. ``É preciso dar espaço aos jovens, sem dúvida, mas de outra forma", diz Hughes, que considera ``Identidade e Alteridade" uma mostra ``muito interessante".
Hughes acha que a exibição centenária levanta questões -as maneiras como o corpo foi representado pela pintura e escultura ao longo deste século- que ``infelizmente não serão discutidas pela crítica, mais ocupada em criticar o fim do `Aperto' e Clair".

O jornalista DANIEL PIZA viajou a convite da Varig

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